arrow-down cart
anchor-to-top

Responsabilidade dos cirurgiões dentistas nos...

Síndrome de burnout entre os...

Fazer parte do mercado de trabalho, no atual mundo capitalista, significa integrar um grupo portador de privilégio, levando-se em consideração que nem todos os indivíduos conseguem ter acesso a um posto de trabalho digno. Contudo, o trabalho pode transformar-se em causador de estresse e perturbação, podendo ocasionar doenças (FERRARI; FRANÇA; MAGALHÃES, 2012).

É dentro desta lógica que pode vir a emergir a Síndrome de Burnout – SB. Esta síndrome surge como uma reação ao estresse ocupacional crônico, que pode vir a desenvolver-se dentro do ambiente de trabalho (COTRIM; WAGNER, 2011/2012). Desta forma, quando ocorre a cronificação do estresse poderá haver o desenvolvimento da SB (YAEGASHI; PEREIRA; CAETANO, 2011).

O termo burnout significa “queima após desgaste”, onde torna clara a ampla exaustão emocional que ocorre de forma progressiva. Outros sintomas da síndrome são o elevado grau de desumanização e descomprometimento em determinadas situações (COTRIM; WAGNER, 2011/2012).

Em 1974, a SB era abordada como um fator clínico relacionado com o grau de sensibilidade de cada indivíduo (COTRIM; WAGNER, 2011/2012). Esta abordagem relacionava-se apenas aos profissionais com função de ajuda ou assistencialista. Contudo, nos dias atuais, o conceito foi ampliado a todo tipo de profissionais (JORDANI et al., 2012).

Atualmente, o estudo sobre o estresse ocupacional e a SB mostram-se bastante pertinentes, tanto no mundo acadêmico quanto no profissional e são encarados como reais barreiras na obtenção da qualidade de vida no trabalho (GENUÍNO; GOMES; MORAIS, 2009/ 2010). Nesses últimos anos, tem-se dado grande enfoque a saúde dos trabalhadores, prova disso é o surgimento de leis e convenções coletivas de trabalho voltados para o tema saúde no trabalho. Contudo, o tema saúde ainda deixa lacunas, principalmente quando se relaciona a saúde psíquica dos profissionais (ZIMATH; BUSEMAYER, 2011).

A SB é considerada uma epidemia organizacional que atinge principalmente profissionais da área da saúde e educação. O profissional portador dessa síndrome torna-se apático, sem ânimo, não encontrando mais sentido na realização das tarefas que são atribuídas a ele, podendo chegar a situações extremas como desistência do cargo (SOUSA; MENDONÇA, 2009).

Revisão de Literatura

Síndrome de Burnout – SB

Levando-se em consideração a atual competitividade enfrentada pelas organizações, em especial as empresariais, os trabalhadores tendem a manifestar sentimentos como insegurança, medo, insatisfação e desmotivação. Pelo exposto, pode-se afirmar que os profissionais atualmente tornam-se mais propensos para desenvolver a SB (BLOISE, 2009). A International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR, 2013) ressalta que 30% dos profissionais brasileiros sofrem da SB.

De início, a descoberta da Síndrome de burnout foi efetivada como um problema social e não como um construto acadêmico. Pode-se confirmar isso, quando se observa que Freudenberger no leste dos EUA e Maslach no oeste do mesmo país, descobrem o fenômeno quase de forma simultânea (BORGES el al., 2005).

O termo burnout foi associado pela primeira vez por Freudenberg em 1974 aos problemas advindos dos serviços prestados à sociedade. Borges et al. (2005) enfatizam que o interesse pela doença surgiu quando Freudenberg começou a perceber alterações no comportamento de voluntários que trabalhavam em um centro de reabilitação de usuários de drogas.

No entanto, foi Cristina Maslach, em 1977, que tornou o termo burnout público, em um encontro anual de psicologia (GALLEGO; RIOS, 1991). Borges el al. (2005) complementam ao ressaltar que Maslach identificou essa doença a partir de longos estudos sobre a influencia que a carga emocional sofria quando associada ao ambiente de trabalho. É importante destacar que a pesquisadora se referia a serviços humanos na área da saúde, tais como enfermaria, medicina, psiquiatria, assistência social, englobando também outras áreas, como advocacia.

Bloise (2009) destaca que a SB é uma doença do final do século passado, que atinge profissionais de áreas diversas. A doença desenvolve-se no psicológico do indivíduo e pode afetar além do ambiente de trabalho, a relação do indivíduo com sua família e amigos gerando, dentre outros desgastes, a perda de compromisso e a elevada queda de eficiência, reduzindo sua produtividade.

Atualmente, a síndrome de Burnout é enquadrada no Grupo V da Classificação Internacional das Doenças (CID-10, 1998) e é denominada de “Sensação de Estar Acabado”, recebendo o código Z73.0. A Lei nº 3.048, outorgada em 1999, regulamenta a síndrome de burnout como uma doença do trabalho (LOPES; PONTES, 2009).

Bloise (2009) destaca que a SB vai corroendo a relação do indivíduo com o ambiente laboral. Por este motivo é importante detectar e tratar a doença ainda em seu estágio inicial. O autor ressalta ainda que geralmente a SB desenvolve-se nas áreas onde os indivíduos acreditam serem as mais propensas para sua realização profissional. Esse fato é justificado devido as grandes expectativas que os indivíduos criam sobre sua alavancagem profissional.

Batista (2010) faz uma analogia da SB com um fogo que pode sufocar, causar perda de energia; como uma espécie de bateria esgotada. Ou seja, fica claro que o indivíduo portador dessa síndrome sente-se esgotado tanta física quanto emocionalmente.

Benevides-Pereira e Gonçalves (2009) destacam que o burnout é constituído de três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional. A exaustão emocional (EE) tem por característica a falta de energia e presença de esgotamento. A despersonalização (DP) faz com que o indivíduo haja de forma dispersa com relação ao ambiente e de forma impessoal. E por fim, a baixa realização profissional (BRP), relaciona-se com a insatisfação e infelicidade do indivíduo com sua profissão.

Sabendo-se que a SB dar-se através de um processo gradativo, pode-se afirmar que esses sintomas não aparecem de forma repentina e nem sequencialmente, podendo demorar muitos anos para que o profissional portador apresente os sintomas dessa síndrome e fique impossibilidade de exercer sua função (SILVA et al., 2008).

Síndrome de Burnout – SB e os Servidores Públicos Federais

As organizações públicas vêm acometidas pela falta de instrumentos de gestão adequado, alto grau de centralização do poder e autoritarismo. Esses fatores, juntamente com a grande decadência das condições de trabalho atual, podem acarretar doenças psicológicas nos serviços públicos, dentre elas, a SB. Ainda que a SB seja um tema que vem ganhando bastante respaldo recentemente, ainda existem poucos estudos sobre essa síndrome dentro do âmbito do serviço público (PALAZZO; CARLOTTO; AERTS, 2012).

Alguns fatores como a grande interferência política, a não continuidade de gestões e projetos, e alguns favoritismos que acercam as normas instituídas, fazem parte da realidade de grande parte das organizações públicas, podendo ser fatores que levam o servidor a desenvolver a SB. A relação expectativa e frustração também adentram como famosas causas acarretadoras da síndrome (PALAZZO, CARLOTTO, AERTS, 2012).

Fernandes (2011) enfatiza que o primeiro passo para minimizar a SB é analisar a Constituição Federal de 1988, no artigo 7º do inciso XXII, onde aborda que a redução dos riscos advindos do trabalho são direitos dos trabalhadores e é obrigação do gestor combater para que não perpetue-se no serviço público. Em suma, a prevenção é a melhor forma de combate.

Mallmann, Palazzo, Carlotto e Aerts (2009) realizaram um estudo que demonstrou que a síndrome de burnout encontra-se presente nos servidores públicos municipais de uma cidade da região de Porto Alegre (RS). A exaustão emocional foi à dimensão que apresentou índices mais altos. Outro aspecto importante demonstrado pela pesquisa foi à grande relevância da qualidade das relações interpessoais no ambiente laboral sobre a saúde do trabalhador. O estudo mostra que mudanças no âmbito físico e organizacional podem vir a minimizar as consequências negativas na saúde dos servidores públicos. Contudo, os autores ressaltam que ao mesmo tempo em que se recomendam tais melhorias laborais, podem surgir resistências políticas.

Referências:

BATISTA, J. B.V. Síndrome de burnout em professores do ensino fundamental: um problema de saúde pública não percebido. Recife: Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, 2010.

BLOISE, D. Síndrome de burnout: o caso dos professores de cursos de administração de universidades privadas. Rio de Janeiro: UNIGRANRIO. 2009.

BORGES, L. de O. et al. Os profissionais de saúde e seu trabalho. São Paulo: Casa do psicólogo. 2005.

CARNEIRO, R. M. Síndrome de burnout: um desafio para o trabalho docente universitário. Anápolis: UniEvangélica, 2010.

COTRIM, P. S.; WAGNER, L. C. Prevalência da síndrome de Burnout em professores de uma instituição de ensino superior. Ciência em Movimento. Ano 14, n. 28, 2011/2012. p. 61-69.

FERNADES, G. 174f. Clima organizacional, a síndrome de burnout e as estratégias de enfrentamento no trabalho em funcionários de instituto de pesquisas do vale do paraíba paulista.(Dissertação, Programa de Pós-Graduação de Economia, Contabilidade e Administração). Taubaté: Universidade de Taubaté, 2011.

FERRARI, R.; FRAÇA, F. M. de.; MAGALHÃES, J. Avaliação da síndrome de burnout em profissionais de saúde: uma Revisão integrativa da literatura. Revista Eletrônica Gestão e Saúde. v. 3, n. 3, 2012, p. 150-165.

GALLEGO, E. A.; RIOS, L. F. El síndrome de “burnout” o el desgaste profesional.Revista de la Asociación Española de Neuropsiquiatría, v. 11, n. 39, 1991. p. 257-265.

GENUÍNO, S. L. V. P.; GOMES, M da S.; MORAIS, E. M. de. O estresse ocupacional e a síndrome de burnout no ambiental de trabalho: suas influencias no comportamento dos professores da rede privada de ensino médio de João Pessoa. Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação,ano 3, ed. 2. 2009/2010.

ISMA-BR: Prevenção e tratamento de Stress. Disponível em: < http://www.ismabrasil.com.br/perguntas-e-respostas> Acesso em: 30 de Setembro de 2013.

JORDANI, P. C. et al. Aspectos da vida universitária e a síndrome de burnout. Psychology, Community& Health, v. 1, n. 3, 2012, p. 246–256.

KAUARK, F. da S.; MANHÃES, F. C.; SOUZA, C. H. M. Metodologia da pesquisa: um guia prático. Itabuna: Via litterarum, 2010.

LOPES, A. P.; PONTES, E. A. S. Síndrome de burnout: um estudo comparativo entre professores das redes pública estadual e particular. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (EBRAPEE), v. 13, n. 2, jul./dez., 2009, p. 275-281.

MALLMANN, C. S.; PALAZZO, L. dos S.; CARLOTTO, M. S.; AERTS, D. R. G. de C. Fatores associados à síndrome de burnout em funcionários públicos municipais. Psicologia: Teoria e Prática.v. 11. n. 2. 2009. p. 69-82.

PALAZZO, L. dos S.; CARLOTTO, M. S.; AERTS, D. R. G. de C. Síndrome de burnout: estudo de base populacional com servidores do setor público. Revista Saúde Pública. v. 46. n. 6. 2012. p. 1066-1073.

SILVA, J. P. da et al. Estresse e burnout em professores. ano 2, v. 3, jan./jun., 2008, p. 75-83.

SOUSA, I. F. de; MENDONÇA, H. Burnout em professores universitários: impacto de percepções de justiça e comprometimento afetivo. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 25, n. 4, 2009, p. 499-508.

YAEGASHI, S. F. R.; PEREIRA, A. M. T. B.; CAETANO, L. M. Estresse e burnout nos professores do ensino fundamental: reflexões sobre os desafios da prática docente.In: ENCONTRO INTERNACIONAL DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA, 7., 2011, Maringá. Anais… Maringá: EPCC, 2011. Sem paginação.

ZIMATH, S. C.; BUSEMAYER, A. J. Conhecendo o índice de burnout em professores universitários de cursos superiores de tecnologia. Revista de Ciências Gerenciais, v. 15, n. 21, 2011, p. 111-135.

Autor: Antônio Neto de Sousa Carvalho

> <