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Características e composição da estratégia...

Transição demográfica e epidemiológica

O ambiente é o local onde as pessoas vivem, crescem, reproduzem-se e morrem em constante interação com a natureza, e por isso, o ambiente  já era preocupação de Florence Nightingale no século XIX, quando assumiu o cuidado com os soldados feridos na Guerra da Criméia. Ela dizia que o ambiente hospitalar deveria ser livre de influências externas que afetassem a vida e o desenvolvimento de um organismo, e que essas influências eram capazes de prevenir, suprimir ou contribuir para a doença e a morte e mesmo sem ela ter o conhecimento sobre o contato por microorganismos, ainda assim acreditava que oferecer melhores condições quanto à limpeza do ambiente e pessoal, ar fresco e boa iluminação, calor adequado, boa nutrição e repouso, contribuíam para a manutenção do vigor do paciente para  cura. Ao seu ver, o ambiente deveria ser isento de fatores que pudessem causar estresse ao paciente, ou seja, deveria haver uma boa iluminação, ventilação, limpeza,  menor nível de ruídos possíveis, e se o paciente não estivesse bem alimentado, bem descansado, ele seria forçado a utilizar de toda energia necessária para que o processo de cura  contrabalançasse o estresse ambiental.

Ao longo de toda a Guerra da Crimeia, Florence conseguiu reduzir as taxas de mortalidade entre os soldados britânicos, através de seus esforços como enfermeira e de seus conhecimentos sobre administração para transformar o local que era praticamente inabitável devido às péssimas condições sanitárias das instalações hospitalares, num lugar em que fosse possível a recuperação da saúde, através do propósito de que o que a enfermagem tem a fazer é colocar-nos na melhor condição possível pra que a natureza  possa restaurar ou preservar a saúde, prevenir ou curar as doenças. E por isso declarava que a enfermagem “deveria significar o uso apropriado de ar fresco, luz, aquecimento, limpeza, silêncio e dieta adequadamente escolhida e administrada – tudo com o menor gasto de energia vital do paciente”.

Nightingale via a manipulação do ambiente físico como o principal componente do atendimento de enfermagem. Ela dizia que a circulação do ar não devia ser apenas adequada mas agradável. A iluminação não podia incomodar o cliente, os ruídos precisavam ser suavizados, a limpeza devia ser adequada no lugar onde o paciente iria ficar  na internação, as roupas precisavam ser limpas e a alimentação do paciente deveria ser discutida de acordo com sua necessidade e preferência.

A enfermaria na Idade Média era considerada local de depósito de doentes com  largas e longas paredes, iguais as fortificações e prisões. Eram controladas pela igreja ou por entidades filantrópicas.

Naquele tempo o ar era considerado contaminante: veiculador de miasmas, daí a justificativa das enfermarias serem comparadas com prisões. As novas descobertas da medicina recém afloravam e os antibióticos ainda não existiam. A estrutura gótica influenciava nos estabelecimentos de saúde, cuja  edificação era iluminado por  altas janelas  com arco ogival, o grande espaço era desconfortável termicamente e proporcionava uma luz difusa. As plantas dos edifícios não mudaram até o período renascentista, a mudança nos hospitais aconteceu quando o homem passou  a ter maior valor econômico pois o estado precisou da mão de obra destes nas batalhas.

Em 1664 houve mudanças nas organizações das enfermarias, pois estas passaram a ser separadas por sexo e por patologias.

No séc. XIX, a partir de Florence Nightingale, pioneira e partícipe de muitos projetos de hospitais militares ingleses, ela propagou  a importância da ventilação e da insolação nos hospitais. Para ela a luz e o ar puro eram fundamentais e mais importantes para recuperação da saúde dos pacientes do que o conforto térmico. Valorizou os corredores de forma a fornecer janelas de ambos os lados da edificação, por que acreditava serem os mais certos para se obter a luz natural e os raios solares.

Juntando o trabalho de Florence com as descobertas de Pasteur as idéias vigentes sobre as enfermarias foram alteradas. E estas passaram a ser arejadas e mais higienizadas.

Em 1977 uma pesquisa demonstrou a importância da integração do paciente com o exterior das enfermarias, isso proporcionava orientação e distração aos pacientes com isso a sua reabilitação seria mais rápida.

Após a revolução industrial com a descoberta da lâmpada, houve uma revolução no caráter dos hospitais, foram possíveis cirurgias à noite e a poluição do ar que provinha da iluminação a óleo ou velas foi eliminado..

Tanto a iluminação natural quanto a artificial são fundamentais, pois além do conforto ambiental, passaram a demonstrar cuidados em relação à higiene e ao controle de infecção hospitalar e os ambientes com revestimentos escuros parecem esconder a sujeira e os de superfície claras favorecem a sensação de limpeza.

A iluminação permanecerá  importante nos projetos hospitalares do séc. XXI, cada vez mais humanizados.

A luz natural passou a ser importante a partir de Florence Nightingale que valorizou a radiação solar para higienizar o ambiente e animar os pacientes, pois interferia nas sensações de relaxamento e de estímulo.

No que diz respeito a ventilação e iluminação das enfermarias pôde-se observar que a ventilação era inadequada, pois haviam várias janelas, mas todas permaneciam fechadas  impedindo a circulação do ar sendo contraria às idéias de Florence Nightingale; com relação a luminosidade os pacientes não reclamavam durante o dia porém, à noite, pelo fato das luzes permanecerem acesas durante todo esse período, dificultava o descanso confortável dos pacientes.

A finalidade do sono é a de conservar energia do corpo em tal período. Os músculos relaxam-se progressivamente e a ausência de contração muscular preserva a energia química para os processos celulares. A diminuição da taxa metabólica basal conserva, ainda mais, o suprimento energético do corpo. (Anch; cols.,1998). Diante disso, acredita-se que os clientes doentes necessitem de mais sono que os indivíduos saudáveis, para contribuir com a cura e a restauração fisiológica e psicológica. E por isso, Nightingale  dizia que os ruídos desnecessários poderiam irritar o paciente e interromper o seu descanso, levando-o à insônia. E devido à insônia ele poderia consumir a energia necessária para o processo de cura, já que a insônia tem relação com a imunossupressão, confusão, irritabilidade e ansiedade.

É preciso também levar em consideração que, os níveis de ruídos contínuos e excessivos não interferem apenas no desenvolvimento do paciente, podendo também interferir na qualidade de saúde e no desempenho profissional, causando efeitos fisiológicos e psicológicos nocivos para toda a  equipe de saúde.

Nightingale considerava responsabilidade da enfermeira investigar e interromper qualquer ruído que pudesse perturbar o sono do paciente. O que não pode ser aplicado em determinadas áreas de uma unidade hospitalar, devido aos inúmeros alarmes e equipamentos existentes, tornando-as extremamente estressantes. Porém isso é possível quando falamos do diálogo dos profissionais de saúde entre si e com os doentes. É necessário sempre levar em conta que um ambiente calmo e agradável pode beneficiar tanto o paciente como a equipe de saúde, experimentarão menos cansaço e menos estresse psicológico; os pacientes sofrerão menos danos psicológicos e fisiológicos e, portanto, terão uma recuperação mais rápida.

De acordo com os relatos dos pacientes, os níveis de ruídos mais significativos foram decorrentes  do intenso tráfego e conversa gerados tanto por funcionários e outros profissionais de saúde, quanto pelos acompanhantes dos pacientes.

A alimentação é a primeira conduta para atender a uma vida mais saudável. A dieta hospitalar é importante por garantir o aporte de nutrientes ao paciente internado, e assim preservar seu estado nutricional, pelo seu papel terapêutico em doenças agudas e crônicas. Além disso é necessário considerar que a alimentação deve ser saudável, adequada e agradável ao paladar.

Para atender as necessidades dos pacientes, os enfermeiros  devem ser capacitados a levantar junto aos pacientes problemas relacionados à dieta ou a perceber e compreender os problemas alimentares.

Nightingale argumentava que a não priorização das preferências alimentares do paciente pode afetar o modo como ele come. Foi observado na prática que , muitas vezes os pacientes, por não ter opção, se alimentam do que lhe é servido.

Nigthtingale também considerava que, a cama e a higiene pessoal são fatores relevantes na recuperação do paciente, pois são vistos como partes importantes do ambiente. Esses dois aspectos são fatores com contribuição direta para a recuperação quando bem executados, mas quando não executados pode ocorrer à proliferação de patologias ou a prorrogação da melhora do paciente.

Para que exista a contribuição da higiene e da cama no processo de recuperação alguns aspectos devem ser considerados, como por exemplo a localização da cama, o tempo em que o paciente fica sobre ela, a forma como é limpa e arrumada. O mesmo ocorre com a higiene pessoal pois esta exige conhecimento por parte de quem a executa, diálogo para conhecer as preferências e padrões culturais do paciente, o grau de participação do mesmo ou do acompanhante no processo do auto-cuidado para que possa ser  executado o planejamento na assistência por parte da equipe de enfermagem. Mas a equipe também tem um outro papel importante quando se trata de higiene pessoal, mesmo quando o paciente tem total condição física de executar essa atividade, porém necessita de orientação, apoio e instrução.

Observamos acima que temos dois fatores importantes no processo de recuperação e que foram abordados desde 1859 e, ainda mais recente, encontramos na teoria de Orem (1971), a importância da higiene pessoal nesse aspecto onde ela, em 1958, inicia um estudo e começa a desenvolver um modelo conceitual para direcionar a prática de enfermagem baseada para o auto-cuidado.

Em nosso campo de observação pode ser constatado que a teoria de Nigthtingale nos aspectos de cama e higiene pessoal não esta sendo aplicada da forma correta pois lá nota-se que a demanda de clientes e escassez de funcionários tem influencia direta de como as necessidades são vistas e tratadas, alem de camas muito próximas, iluminação inadequada e grande número de pessoas com patologias diversas, o que torna muitas vezes o ambiente impróprio, bem como da necessidade de eleição de cuidados.

Diante do exposto, fica claro que o paciente não precisa apenas de medicação, mas de toda assistência onde envolve a equipe de saúde e hospitalar, para que o objetivo do cuidar e curar venha a ser alcançado.

Segundo Florence em sua teoria ambientalista sobre os relacionamentos interpessoais, considerava que animar falsamente o doente diminuiria a importância e o perigo de sua enfermidade, mas considerava como um método não benéfico, Florence acreditava que falsas esperanças são deprimentes para os pacientes. Acreditava que as pessoas enfermas deveriam ouvir boas noticias, pois lhes auxiliariam na conquista da  saúde.

Na teoria de King, também nos relata sobre a relação do enfermeiro com o paciente que é um veículo para o fornecimento dos cuidados de enfermagem. O objetivo do enfermeiro é utilizar a comunicação para auxiliar o cliente no seu pronto restabelecimento.

Para um relacionamento interpessoal satisfatório, faz-se necessário que os enfermeiros estejam atentos as suas próprias necessidades e desenvolvam um processo de auto-conhecimento, pois é difícil interagirmos  com os outros, sem sermos capazes de compreendermos  a nós mesmos.

Na prática pode-se perceber que o profissional enfermeiro esqueceu a essência de seu papel como cuidador. Frequentemente são relatadas reclamações dos pacientes sobre a falta de comunicação com os enfermeiros. Com base na teoria, pode-se observar que as atividades dos profissionais enfermeiros possuem características diferentes de todos os outros dentro da área de saúde que é o cuidador. Todavia essa função perdeu seu sentido verdadeiro devido à falta de comunicação e humanização.

Conclusão

Entender um pouco mais sobre a teoria ambientalista de Florence Nightingale e visualizar na prática a contribuição da equipe de saúde na aplicabilidade de tal tória, foi a pretensão desse trabalho. Esta preocupação perpassa a inquietação frente às necessidades dos pacientes  internados em ambiente hospitalar.

Os fundamentos históricos sobre os quais se organizou a prática de enfermagem, possibilitou uma maior necessidade de adequar o ambiente físico às necessidades do cliente, como fator contribuinte no processo de cura e reabilitação do mesmo neste espaço, a enfermagem se organiza, desenvolvendo um trabalho de controle do ambiente, interagindo nas relações interpessoais, auxiliando na limpeza pessoal. No entanto, percebemos que o enfermeiro acaba se ocupando em tarefas ditas administrativas, impossibilitando a assistência direta ao paciente.

A necessidade de aproximação entre a teoria e a execução na prática não estão coerentes, devido a limitações ou questões de ordem sociais e econômicas, que apenas a vontade individual, isolada, não tem condições de modificar.

Referências

CARVALHO, Werther B., Pedreira, Mavilde L. G. and Aguiar, Maria Augusta L. de Nível de ruídos em uma unidade de cuidados intensivos pediátricos. J. Pediatr. (Rio de J.), Dez 2005, vol.81, nº.6, p.495-498.

COSTI Marilice; ARQUITETA e URBANISTA, mestre em Arquitetura, docente (Avaliação Pós-ocupação PUCRS), comentarista RS-CONSUMIDOR, escritora, poetisa.(Luz em hospitais).

GEORGE, Julia B.. Teorias de enfermagem: os fundamentos para a prática profissional / . 4. ed. -. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. 375 p.

PEREIRA, Raquel Paganini et al. Qualificação e quantificação da exposição sonora ambiental em uma unidade de terapia intensiva geral. Rev. Bras. Otorrinolaringol., Dez 2003, vol.69, nº.6, p.766-771.

POTTER, Patricia A.; PERRY, Anne Griffin. Fundamentos de Enfermagem. 5º ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. 1509p.




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