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Ética e as novas tecnologias...

Sistematização da assistência de enfermagem:...

A hospitalização da criança é um fenômeno traumatizante, pois a mesma vivencia situações de medo e angustia pelo afastamento do seu ambiente familiar, do convívio com as pessoas queridas e de suas atividades diárias. Humanizar o ambiente pediátrico durante a internação é de suma importância, e a inserção da família no cuidado em pediatria favorece ao cuidado mais humano.

A presença dos pais ou responsáveis traz para a criança segurança, desta forma, o cuidar em pediatria deve estar voltado não só para a criança, mas considerar a mesma e seu familiar como clientes, sendo assim o profissional deve estar atento para os sentimentos enfrentados pelos familiares durante a fase da hospitalização.

O acompanhante é uma pessoa significativa para a criança, sendo um representante de sua rede social que vai acompanhá-lo durante a permanência no ambiente hospitalar (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).

A importância do relacionamento humanizado no âmbito hospitalar com o familiar da criança permite um olhar decisivo para a assistência, trazendo e inserindo uma nova forma de cuidado para a criança com a participação intensa da família estabelecendo vínculos entre o profissional- criança – família.

A atuação da enfermagem no cuidar centrado na família na unidade ainda é um grande desafio, pois apesar da mesma reconhecer a importância da presença dos pais e o direito de permanecerem ao lado de seus filhos nem sempre essas mudanças são reconhecidas e  aceitas  pelos  profissionais.

“O Estatuto da criança e o adolescente, em seu artigo 12º preconiza que os estabelecimentos de saúde devem proporcionar condições para a permanência de um dos pais ou responsável, em tempo integral, nos casos de internação da criança ou adolescente”. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1991).

A doença e o impacto na criança e na família

A doença além de afetar a criança modificando sua rotina, atinge todas as pessoas que convive com a criança. Durante o cuidar da criança hospitalizada, a família vivência situações de dor e angústia seja pelo desconhecimento da doença e tratamento, ou de como essa criança ficará no futuro.

Segundo SILVA e CORREA (2009), a doença crônica afeta não só a criança, mas também as relações sociais dentro da família e sua rotina, que passa a ser permeada por constantes visitas a profissionais de saúde, medicações e hospitalizações e atinge todas as pessoas que convivem com a criança.

Em minha vivência profissional, acompanhei inúmeros familiares durante o processo de hospitalização, onde pude vivenciar todas as emoções expressadas às suas crianças. Nestas observações, o profissional que se propõe ao cuidado deve estabelecer vínculos de interação e relacionamento com a família, visto que o impacto causador da doença, a hospitalização, os procedimentos dolorosos, o ambiente desconhecido e longe do lar, entre outros, desperta momentos geradores de stress a estes, tornando traumático o período hospitalar.

Durante a hospitalização da criança todo o sistema familiar é afetado, a família tenta proteger a criança das experiências dolorosas, onde a mesma enfrenta novas formas de organização e requerem o desenvolvimento de habilidades em lidar com as pressões, as ansiedades, as dificuldades e as incertezas existentes ao ter a vida familiar dividida entre a casa e o hospital, bem como para a promoção e a manutenção do bem-estar do sistema familiar.

Compartilhar o cuidado com a família permite a participação intensa da mesma, gerando um ambiente além dos limites terapêuticos.

O cuidado prestado pela família difere devido ao forte componente emocional e afetivo, não sendo prioridades as técnicas e procedimentos, como ocorre com a equipe de saúde que assiste a criança doente e hospitalizada (RIBEIRO, 1999).

O Cuidado de Enfermagem Centrado na Família

A presença dos pais durante a internação da criança minimiza o sofrimento, tendo a família como referencia o período em que ela precisa do tratamento se torna menos árduo. O cuidar em pediatria deve estar vinculado a família para as satisfação das necessidades apresentadas por esse pequeno ser e requer do profissional o desenvolvimento de atitudes e sentimentos de sensibilidade.

O profissional de enfermagem precisa estar disposto a esse novo modelo de cuidar em pediatria, estando atento para interagir nos momentos em que o impacto da doença provoque situações de conflito, compreendendo e confortando.

Observamos que apesar da grande preocupação nas unidades pediátricas com a interação entre familiares e profissionais, o despreparo em relação ao cuidar centrado na família ainda é muito evidente.

“A própria equipe de enfermagem se sente despreparada para manter um bom relacionamento com as famílias: faltam-lhe conhecimentos que deem suporte para trabalhar com a dor e o sofrimento do outro e para estabelecer processos efetivos de comunicação. As mães vivem constantemente com medo de perguntar ou mesmo expor suas idéias e, desse modo, os vínculos da relação entre mães e a equipe de enfermagem são muito frágeis”  (MOTTA, 1998).

Para um cuidado humanizado o assistir deve ir além do atendimento focalizado exclusivamente no risco biológico de perder a vida (BARBOSA, 1995). Estar sensibilizado é ser capaz de reconhecer a família como um fenômeno complexo que demanda apoio, sobretudo na situação de doença (GOMES, 1999).

O cuidado de enfermagem em pediatria deve ser compartilhado com a família, de modo que o mesmo participe dos cuidados de seus filhos, o que solidifica a parceria entre as mães e a enfermagem.

Refletindo o Cuidado centrado na família na hospitalização da criança

Atualmente o reconhecimento da importância da permanência dos pais ou responsáveis, envolvendo-os no cuidar da criança propicia um cuidar mais humano e devemos instrumentalizar esse cuidar prestado pela família, ouvindo-as, levando em consideração suas opiniões e compreendendo-as com o objetivo de satisfazer as necessidades da criança que está sob nossos cuidados.

Com a realização do estudo torna-se evidente a importância da família no cuidar da criança, atuando como facilitadora nos processos dolorosos da hospitalização. As equipes devem estar preparadas para permitir uma maior participação, de forma harmoniosa e integradora, favorecendo a construção de um ambiente inserido na rotina de uma unidade pediátrica, minimizando os efeitos da hospitalização na criança, bem como no seu familiar.

O profissional deve exercitar no seu cotidiano, os efeitos benéficos de um relacionamento com o familiar da criança permeado de calor, compreensão e segurança, permitindo escutar e acolher, buscando satisfazer às necessidades do pequeno ser. Este mesmo profissional, diante de novas perspectivas e tecnologias que o auxiliam no cuidado, deve reforçar a busca incessante para a centralização do cuidar na família.

Referências Bibliográficas:

Barbosa SF. Indo além do assistir: cuidando e compreendendo a experiência com clientes internados em UTI (dissertação de mestrado em enfermagem). Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 1995. 325 f.

Gomes, MMF. As repercussões familiares da hospitalização do recém-nascido na UTI neonatal: construindo possibilidades de cuidado [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1999.

BRASIL. Ministério da Saúde. 2004. Política Nacional de Humanização. Disponível em: . Acesso em: 5 fev. 2005.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: visita aberta e direito a acompanhante / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2007. Brasil. Ministério da Saúde.

Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização.

Motta MG. O ser doente no tríplice mundo da criança, família e hospital: uma descrição fenomenológica das mudanças existenciais. Florianópolis: UFSC, 1998.

Ribeiro, C.A. Crescendo com a presença protetora da mãe: a criança enfrentando o mistério e o terror da hospitalização (tese). São Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 1999.

Silva, F.M.; Correa, I. 2006. Doença crônica na infância: vivência do familiar na hospitalização da criança. Revista Mineira de Enfermagem, Belo Horizonte, v. 10, n. 1. Disponível em :< http:// www.portalbvsenf.eerp.usp.br>. Acesso em: 14 mai. 2009

Autora: Adriane da Neves Silva



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