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Anemia falciforme no Brasil

Gestão ambiental

A necessidade de se falar de humanização no atendimento em saúde surge quando se constata que a evolução científica e técnica dos serviços de saúde não têm sido acompanhadas por um avanço correspondente na qualidade do contato humano. Parece que, em muitos ambientes hospitalares, o diagnóstico e os procedimentos de tratamento, assim como a autoridade do médico e de alguns profissionais da área dispensam, definitivamente, qualquer iniciativa para melhorar o contacto interpessoal, o conforto e qualidade de vida do paciente.

A temática humanização envolve questões amplas que vão desde a operacionalização de um projeto político de saúde calcado em valores como a cidadania, o compromisso social e a saúde como qualidade de vida, passando pela revisão das práticas de gestão tradicionais até os microespaços de atuação profissional nos quais saberes, poderes e relações interpessoais se fazem presentes. Assim, é necessário compreender a humanização como temática complexa que permeia o fazer de distintos sujeitos.

O Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar – PNHAH. foi criado em 1997, pelo Ministério da Saúde. A implantação do Programa foi resultado do esforço integrado do Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais e Municipais e entidades da sociedade civil, com o  objetivo fundamental de aprimorar as relações entre profissionais de saúde e usuários, dos profissionais entre si, e do hospital com a comunidade (Ballone, 2008).

Aurélio (2002) define Humanização: ato ou efeito de humanizar (-se); humanizar: tornar humano; dar condição humana a; tornar benévolo, afável; fazer adquirir hábitos sociais polidos; civilizar; (bras) amansar (animais) desumano: que não é humano, bestial; cruel.

De acordo com a UNICAMP (2004) a área de saúde passa por transformações tecnológicas importantes, porem não suficientes para garantir um atendimento digno, do ponto de vista humanista e até terapêutico. Por outro lado, a jornada assistencial extenuante, a convivência com o sofrimento e até com a morte leva o trabalhador da área de saúde a um nível de desgaste constante. A necessidade de garantir um processo de cuidado e de trabalho mais humanizado desencadeia uma série de iniciativas que devem ser estimuladas e entendidas.

Segundo Oliveira (2010) Humanizar a assistência. Significa agregar, à eficiência técnica e científica, valores éticos, além de respeito e solidariedade ao ser humano. O planejamento da assistência deve sempre valorizar a vida humana e a cidadania, considerando, assim, as circunstâncias sociais, étnicas, educacionais e psíquicas que envolvem cada indivíduo. Deve ser pautada no contato humano, de forma acolhedora e sem juízo de valores e contemplar a integralidade do ser humano.

Nogueira (2003) faz varias interrogações sobre o que é ser um profissional humanizado.  É gostar da paciente/cliente? É ser gentil com ela? É usar-lhe cortesia e delicadezas? É perguntar-lhe se está bem? É colocar a sua disposição todos os meios tecnológicos para aliviá-la da dor? É dar-lhe explicações ou, ao contrário, evitar “confundi-la” com informações “desnecessárias”?É não deixá-la esperando nas consultas? É satisfazer os desejos dela? É alojá-la na melhor suíte do melhor hospital da cidade? É atender pelo convênio para ser mais acessível? Ou fugir dos convênios para ter mais independência profissional? É aquele que saiu da melhor faculdade de medicina? Que tem PhD nos EUA? É o mais charmoso? O mais popular? O mais famoso?.

Para que os trabalhadores de saúde possam exercer a profissão com honra e dignidade, respeitar o outro e sua condição humana, dentre outros, necessitam manter sua condição humana também respeitada, ou seja, trabalhar em adequadas condições, receber uma remuneração justa e o reconhecimento de suas atividades e iniciativas. Logo, fica evidente que os profissionais, na maioria das instituições de saúde, estão aquém da reconhecida valorização de si e do seu trabalho.

É preciso mudar a visão do trabalho dos profissionais de saúde.  Quando se fala em profissionais de saúde, pensa-se apenas em médicos e enfermeiros. As experiências multi e interdisciplinares ainda não ganharam a abrangência que precisam ganhar, para transformar-se num novo padrão de trabalho. Diferente do que ocorre, quando se fala em profissionais de saúde, é necessário que se entenda aí todas as categorias envolvidas com a atenção à saúde: médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, maqueiros, vigilantes, dirigentes, todos, enfim, que prestam serviços no estabelecimento.

Bergamini (2008) comenta que é preciso reconhecer, entretanto, que muitas instituições, com os crescentes cortes de verbas públicas, enfrentam dificuldades para manter-se. O quadro profissional limitado, a deficiência de recursos materiais, as condições insalubres de trabalho e as novas e contínuas demandas tecnológicas, com frequência, aumentam a insegurança e favorecem a insatisfação no trabalho.

De acordo com Ballone (2008), humanizar o atendimento não é apenas chamar a paciente pelo nome, nem ter um sorriso nos lábios constantemente mas, além disso, compreender seus medos, angústias, incertezas dando-lhe apoio e atenção permanente. Humanizar também é, além do atendimento fraterno e humano, procurar aperfeiçoar os conhecimentos continuadamente é valorizar, no sentido antropológico e emocional, todos elementos implicados no evento assistencial.  A Humanização do atendimento, seja em saúde ou não, deve valorizar o respeito afetivo ao outro, deve prestigiar a melhoria na vida de relação entre pessoas em geral.

Ações simples geralmente promovem excelentes resultados. Mais do que tratar uma patologia, as condutas voltadas à humanização do atendimento, praticadas pelos profissionais de saúde podem, propiciar a visão do paciente como um ser bio-psico-social e espiritual, fundamentadas no conceito de integralidade do ser, percebendo o ser humano em sua individualidade, sempre procurando respeitar a dignidade do paciente, oferecendo a ele um acolhimento global, e não apenas limitado à patologia que justificou a sua internação.

Carzino (2005) comenta que a Humanização dos hospitais será uma ação tão abrangente, que as exigências da cidadania farão com que extrapole o âmbito dos hospitais públicos e chegue aos estabelecimentos privados. Decorre dos direitos da clientela, razão de ser da própria rede hospitalar. Não será suficiente o hospital apresentar aqueles itens tradicionais de qualidade e organização, como pode ocorrer em qualquer fábrica de parafuso, automóvel ou chocolate. Terá de responder com ambientes, ações e gestos humanizados, em respeito aos próprios direitos humanos e em resposta às novas exigências sociais.

Porem, para que o trabalho de um profissional seja eficiente e ao mesmo tempo humanizado, em qualquer área e não apenas médica, são necessários conhecimento, qualidade técnica e, indubitavelmente, uma boa qualidade de inter-relação humana. Na área da saúde, a qualidade exige o desenvolvimento de conhecimentos e de capacidade técnica mas, para a qualidade de inter-relação humana os profissionais de saúde precisa reconhecer e lidar com os aspectos emocionais do paciente, isto é, precisa desenvolver atitudes eficientes e humanas em sua tarefa assistencial.

Ballone (2008) comenta que humanizar é, também, investir em melhorias nas condições de trabalho dos profissionais da área, é alcançar benefícios para a saúde e qualidade de vida dos usuários, dos profissionais e da comunidade. Não há humanização da assistência sem cuidar da realização pessoal e profissional dos que a fazem. Não há humanização sem um projeto coletivo em que toda a organização se reconheça e, nele, se (re) valorize.

A humanização do atendimento é essencial para reduzir o sofrimento de quem precisa ser internado ou se consultar em um hospital. A assistência à saúde deve ir além da abordagem científica, ela deve ser fundamentalmente humanista e o profissional de saúde deve deixar de considerar apenas a doença, passando a cuidar do doente, da pessoa que, circunstancialmente, está sofrendo. Além da dimensão física, a pessoa deve ser atendida também em seu componente social, psíquico e emocional. (CARZINO, 2005)

Humanizar a relação com o doente realmente exige que o trabalhador valorize a afetividade e a sensibilidade como elementos necessários ao cuidar. Porem, devemos compreender que tal relação não supõe um ato de caridade exercido por profissionais abnegados e já portadores de qualidades humanas essenciais, mas um encontro entre sujeitos, pessoas humanas, que podem construir uma relação saudável, compartilhando saber, poder e experiência de vida.

Backes (2006) comenta em seu artigo que o acelerado processo técnico e cientifico no contexto da saúde, a dignidade da pessoa humana, parece ser relegada a um segundo plano. A doença, muitas vezes, passou a ser o objeto do saber reconhecido cientificamente. Os profissionais da área da saúde parecem gradativamente desumanizar-se, favorecendo a desumanizarão de sua pratica.

Ao se falar da desumanização das instituições de saúde, devemos lembrar que essas instituições, como quaisquer outras, refletem a problemática daquilo que acontece em nossa sociedade. Se pretendermos alguma coisa mais séria e profunda em relação ao tratamento que se dispensa às pessoas na área da saúde, devemos buscar antes, na sociedade, as raízes da desumanização dos contactos interpessoais. (BALLONE, 2008)

Segundo Saburo (2011), a humanização da instituição da saúde deve passar, obrigatoriamente, pela humanização maior e condicionante de toda a sociedade. Nunca a população se queixou tanto. Nunca a desumanização se sentiu tanto. Nunca se fugiu tanto ao doente. Nunca se dedicou tanto tempo ao preenchimento de papéis. Nunca se reduziu tanto o paciente a uma patologia e aos exames subsidiários. Nunca os cuidados foram menos globais. Nunca se perguntou tão pouco a vontade do doente, apesar de se colherem histórias exaustivas. Nunca este foi tanto um joguete nas mãos dos técnicos de saúde, com isto as discussões sobre a desumanização da assistência em saúde em nosso país têm motivado uma série de propostas de intervenção contemplando tanto aspectos organizacionais dos serviços de saúde como educacionais.

Considerações Finais

A humanização depende da capacidade de falar e ouvir (comunicação), pois as coisas do mundo só se tornam humanas quando passam pelo dialogo com os semelhantes, ou seja, viabilizar nas relações e interações humanas o dialogo, não apenas como uma técnica de comunicação verbal que possui um objetivo pré-determinado, mas sim como forma de conhecer o outro. A humanização é um processo amplo, demorado e complexo, ao qual se oferecem resistências, pois envolve mudanças de comportamento, que sempre desperta insegurança e resistência.  Humanização não coincide nem com as práticas adotadas durante o atendimento ao paciente, nem com a gentileza e compreensão demonstradas, nem com títulos e fama.

Referências:

AURELIO, O mini dicionário da língua portuguesa. 4a edição revista e ampliada do mini dicionário Aurélio. 7a impressão – Rio de Janeiro, 2002.

BERGAMINI, A.C.A.G., Humanização em UTI adulto no Distrito Federal, 2008.

BALLONE, G. J – Humanização do Atendimento em Saúde – 2008  disponível em www.psiqweb.med.br

BACKES D. S, LUNARDI V. L, LUNARDI W.D. Filho. A humanização hospitalar como expressão da ética. Rev Latino-am Enfermagem 2006 janeiro-fevereiro

CARZINO, A. COMUNICAÇÃO HUMANIZADA EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA, 2005.

NOGUEIRA, T.A. Quem é o médico humanizado? 2003.

OLIVEIRA, M.C.G.V. A humanização do profissional de saúde, 2010.

SABURO, P. A Humanização nas Organizações de Serviços de Saúde, 2011.

UNICAMP Humanização no atendimento, 2004.

Autora: Enfª. Maria Olinda de Azevedo Martins


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