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Atendimento pré-hospitalar

Estresse (stress) no ambiente de...

A ideia de estudar sobre a assistência de enfermagem em obesidade infantil se deu pelo fato do grande número dessas crianças no município de Fortaleza e também de não existirem profissionais preparados para lidar com esses clientes e nem serviços públicos voltados para a obesidade infantil. A intenção do estudo é buscar conhecer a dinâmica do enfermeiro frente a promoção, prevenção e o acompanhamento da criança obesa, por se ter observado em uma comunidade, no referido município, que a maioria das crianças que são obesas continuam obesas na adolescência e fase adulta.

Segundo o estatuto da criança e do adolescente lei N°8.069, de 13 de julho de 1990, em seu art. 2°, considera-se criança para os efeitos desta lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade(1).

Há, portanto, a necessidade de criar estratégias efetivas para a redução da obesidade infantil de forma a evitar futuros adultos obesos e doentes. As autoridades devem promover educação continuada e capacitação do enfermeiro da atenção básica.

Diante do exposto, surge o seguinte questionamento: como o enfermeiro intervém junto à criança obesa e sua família? Acredita-se que o enfermeiro capacitado para o cuidado da criança com sobrepeso ou obesa contribuirá de forma efetiva e precoce na redução da obesidade infantil, pois vai identificar os fatores de risco, bem como inserir estratégias para a família no cuidado a essas crianças, considerando que a família é de extrema importância na promoção de hábitos alimentares saudáveis.

O enfermeiro pode atuar junto às escolas educando quanto a importância de hábitos alimentares saudáveis e de práticas de atividades físicas de forma a sensibilizar diretores, professores educadores físicos e os responsáveis pelo o preparo do lanche escolar. Deve, também, levá-los a refletir o que estão servindo aos seus alunos, pois a escola é um ambiente onde as crianças passam boa parte de suas vidas. E é nesse espaço que elas devem ser sensibilizadas, para o autocuidado com sua saúde, crescimento e desenvolvimento de forma adequada, pois a obesidade pode vir a ser um transtorno para o futuro.

As escolas, principalmente as particulares, geralmente oferecem alimentos calóricos e com pouco valor nutritivo. Acredita-se que a educação em saúde sobre alimentação saudável dentro das escolas possa ser uma das estratégias para reduzir a obesidade infantil. “A obesidade integra o grupo de doenças e agravos não transmissíveis” (DANTs).  “A escola é um ambiente crucial para a promoção da alimentação saudável, pois se caracteriza por um espaço de trocas de informações e ideias. Nesse espaço a criança adquire conhecimento e habilidades, tem contato com diferentes culturas, alimenta-se e educa-se de uma forma abrangente”(2). O conhecimento da enfermagem em relação à obesidade infantil é de grande importância, pois muitos pais não sabem como alimentar adequadamente seus filhos. As mães acham que a criança só está bem se estiver gorda, em alguns casos incluindo complementos vitamínicos na dieta dos filhos, não entendendo que o excesso de peso pode causar doença na criança. Com isso, a criança engorda demais e nesse caso nem sempre as mães se preocupam em reverter a situação, ou mesmo quando se atentam, não sabem como fazê-lo. No entanto, não se pode culpar só a mãe ou família, existe todo um contexto, político, social, econômico e cultural envolvido nesse processo.

Os enfermeiros devem fortalecer a educação em saúde em todos os níveis populacionais para sensibilizar as pessoas que associada à obesidade existem vários fatores de risco para a saúde, como o diabetes e hipertensão. “As prevalências de sobrepeso e obesidade cresceram de maneira importante nos últimos 30 anos. Neste cenário epidemiológico do grupo de doenças crônicas não transmissíveis, destaca-se a obesidade, por ser simultaneamente uma doença e um fator de risco para outras doenças deste grupo, como hipertensão e o diabetes, igualmente com taxas de prevalências em elevação no país”(2).

Os objetivos desse ensaio são: conhecer a intervenção dos enfermeiros em relação à assistência à criança obesa; identificar as ações de enfermagem voltadas para orientações alimentares em crianças obesas; averiguar as sugestões dos enfermeiros quanto às atividades para melhorar a assistência de enfermagem a essa clientela; e descrever as dificuldades encontradas pelos profissionais de enfermagem nas suas ações a crianças obesas e sua família.

METODOLOGIA

O referente estudo é descritivo com abordagem qualitativa por meio de entrevistas com enfermeiros da equipe da estratégia de saúde da família da Secretaria Regional I na cidade de Fortaleza, nas Unidades Básicas de Saúde – UBS, no período de julho a dezembro de 2013.

Segundo GIL (2008),a pesquisa descritiva tem como objetivo a descrição das características de determinada população ou grupo. Podem ser elaboradas também com a finalidade de identificar possíveis relações entre variáveis. O pesquisador procura conhecer e interpretar a realidade, sem interferir para modificá-la(3).

Desse modo, essa pesquisa busca conhecer os fatores relacionados ao comportamento do profissional de enfermagem na prevenção, promoção e no acompanhamento da obesidade infantil.

Os sujeitos do estudo foram os enfermeiros da Secretaria Executiva Regional (SER) I que abrange 15 bairros, com 12 UBS, correspondendo a 47 enfermeiros que contemplassem os seguintes critérios de inclusão: ser enfermeiro da estratégia de saúde da família que acompanha crianças de 0 a 12 anos incompletos, com sobrepeso ou obesidade. E como critério de exclusão foram consideradas três situações: o fato dos enfermeiros não estarem presentes na unidade de saúde na ocasião da coleta de dados; estarem de férias; e não acompanharem crianças obesas ou sobrepeso. Dos 47 enfermeiros 20 foram entrevistados. E os outros 27 não foram entrevistados por não estarem presentes na ocasião da entrevista; alguns de férias ou não acompanhavam crianças obesas ou com sobrepeso.

O instrumento de coleta de dados foi a entrevista semiestruturada abordando o enfermeiro quanto à estratégia de saúde da família e suas intervenções na obesidade infantil. Foi realizada na própria unidade de saúde depois das consultas de enfermagem ou em hora e data marcada, de acordo com a disponibilidade dos enfermeiros, para os que não dispunham de tempo depois da consulta.

O termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado por todos os sujeitos e em duas vias, respeitando sua dignidade e autonomia, conforme a resolução n.º 466/12, de 12 de dezembro de 2012, que trata dos aspectos éticos legais de pesquisa envolvendo seres humanos(4). Foi aprovado pelo o Comitê de Ética em Pesquisa, da Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza sob o parecer no 2308125806984/2003.

As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra. Os entrevistados foram informados que a entrevista seria gravada e apenas dois não aceitaram gravar, tendo seus depoimentos coletados pelas pesquisadoras.

A análise dos dados foi realizada após leitura flutuante de cada relato. Posteriormente foi feita uma leitura minuciosa e exaustiva destacando-se assim, as temáticas a serem analisadas. Na análise das temáticas aprofundaram-se ainda mais as leituras das falas, buscando relacioná-las de acordo com as semelhanças e diferenças e organizá-las de tal forma que fosse possível estruturá-las em categorias (3).

As categorias evidenciadas foram discutidas e interpretadas, favorecendo um melhor entendimento do fenômeno em estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após a transcrição das falas dos 20 enfermeiros e análise de seus depoimentos, percebeu-se que a consulta de puericultura e orientações alimentares são ações de enfermagem constantes para as famílias que são acompanhadas na estratégia de saúde da família, como também orientações para atividade física a crianças maiores do programa bolsa família. Mas quando se trata de crianças obesas a maioria dos enfermeiros encaminha para outros profissionais. As dificuldades encontradas se colocam dentro de fatores culturais, sociais e políticos.

As falas dos sujeitos estruturaram sete categorias: Educação alimentar; Cultura; Estimular o aleitamento materno; Encaminhamento para outros profissionais; Acompanhamento no gráfico da caderneta da criança; Contribuição do enfermeiro na prevenção da obesidade infantil; Tecnologia, fastfood; e o sedentarismo.

Educação alimentar

A orientação para uma alimentação saudável é uma das ações de enfermagem mais utilizadas para a prevenção da obesidade infantil, pois é durante esta orientação que o profissional passa informações necessárias para que o bebê cresça de forma saudável.

Durante a consulta, o enfermeiro investiga a alimentação que está sendo ofertada e a partir daí faz suas orientações, pois se a criança está tendo uma alimentação correta, o enfermeiro orienta a continuar, mostrando-lhe os benefícios que está proporcionando para seu filho e a importância de manter esta alimentação para que a criança siga crescendo de forma saudável.

Ao observar que a alimentação ofertada não está sendo a adequada, o enfermeiro faz seu papel de promover a saúde, orientando para o uso de frutas, verduras, legumes, explicando destacar a importância destes para o crescimento e desenvolvimento saudável do seu filho e falando também sobre os malefícios que uma alimentação inadequada pode trazer.

Durante a pesquisa foi observado que alguns enfermeiros, além de indicar os alimentos saudáveis, também fazem um cardápio para as mães, colocando os horários e os alimentos a serem oferecidos, de forma a ajudar ainda mais nesta promoção da saúde, como explicito na fala a seguir:
“Eu também gosto de montar um cardápio para a mãe; monto junto com ela, explicando tudo o que ela vai dar e a hora certa de ela dar o alimento” (Enfa P).

A ajuda do enfermeiro na construção de um cardápio é muito importante, pois orienta os pais a terem uma segurança maior, a saberem realmente o que devem oferecer ao filho e a hora de dar o alimento. E esse cardápio, muitas das vezes serve até mesmo para os próprios pais e para a família como um todo, a ajudar na alimentação destes e até mesmo a mudar o estilo de vida e alimentação, promovendo saúde.

As mães têm uma grande resistência no ato de alimentar seus filhos corretamente e se percebe que o enfermeiro precisa intervir e ser capacitado para isso, criar estratégias mais efetivas, por estar mais próximo da comunidade. É o profissional mais indicado a fazer educação em saúde por estar em constante contato com as famílias. Por conhecer suas dificuldades de perto vai facilitar seu trabalho junto à população nas orientações sobre hábitos alimentares saudáveis.

Podemos observar este trabalho nas falas a seguir:
“A contribuição do enfermeiro na redução da obesidade infantil é fundamental na boa orientação dietética. E nós que fazemos o acompanhamento de puericultura praticamente de forma mensal”. (Enfa. A)

“Porque a partir do momento que a gente tem aquela visão técnica que a criança tá caminhando para a obesidade, a gente vai investigar o que está comendo, vai passar a orientar a mãe”. (Enfa. H)

O enfermeiro da estratégia de saúde da família pode contribuir de forma precoce na redução da obesidade infantil e diminuir os riscos de outras doenças em decorrência do excesso de peso na criança.

Segundo PATRIOTA (2011) os pais sempre se queixam que seus filho não aceitam frutas, hortaliças etc., quando, na verdade o aprendizado para aceitação do sabor dos diversos alimentos saudáveis não foram fornecidos na época adequada(5).

“A atenção básica considera o sujeito em sua singularidade, na complexidade, na integralidade e na inserção sociocultural e busca a promoção de sua saúde, a prevenção e tratamento de doenças e a redução de danos ou de sofrimento que possam comprometer suas possibilidades de viver de modo saudável” (6).

O enfermeiro da estratégia da família pode atuar de várias formas para ganhar a confiança de sua clientela, reduzindo os conflitos e tendo resultados positivos nas suas ações.

Não resta dúvida que a educação em saúde é o primeiro passo, pois a população é muito carente financeiramente e também de conhecimento. O enfermeiro precisa ir além dos muros, sensibilizar a população sobre os riscos da obesidade – que não é apenas uma questão de estética, mas de saúde pública – e incentivar as práticas de atividades físicas.

Cultura

É grande a quantidade de crianças obesas existentes nos dias atuais e na grande maioria das vezes, a família não o vê como uma criança obesa. A cultura alimentar é algo muito forte existente na nossa sociedade E em nossa cultura se acredita que um bebê gordinho é um bebê saudável, sendo que nem sempre isso é verdade. Muitas vezes, pode ser um indício de uma futura doença, algum distúrbio no metabolismo, uma predisposição genética para a obesidade, dentre outros fatores.

É importante que os profissionais trabalhem com foco nesta cultura a cada consulta mensal, pois muitas famílias quando têm um bebê gordinho, já não se preocupam em levar esse bebê para a consulta mensalmente, achando que este bebê está saudável. Mesmo nos dias atuais, esta cultura ainda é muito presente como observado no relato a seguir:

“Observamos que a cultura do bebê gordinho que para elas significa bebê saudável, é muito presente. As mães querem a todo custo ter um bebê gordinho, então eu procuro sempre trabalhar este mito com as mães, mostrando que nem sempre um bebê gordinho é sinal de que o bebê está saudável” (Enfa. L).

 “Porque as mães têm uma cabeça realmente de estar com a criança gordinha. A gente mostra no cartão de vacina que a criança está bem, mas ela olha para a criança e diz que ela está muito magrinha’’ (Enfa. F).

“Ainda existe muito mito dos pais, principalmente dos avós, que a criança gordinha é bonito e a gente tentar combater isso no dia a dia na consulta’’ (Enfa. K).

É papel do enfermeiro mostrar aos pais que um bebê gordinho nem sempre é sinal de bebê saudável e também que, em muitos casos, um bebê gordinho permanece gordinho ao crescer, o que futuramente pode lhe acarretar várias doenças.

“O tratamento da obesidade deve incluir alterações gerais na postura familiar e da criança, em relação a hábitos alimentares, tipo de vida, atividade física e correção alimentar “(7: 238-244).

A cultura alimentar, mesmo nos dias atuais, é muito forte e muitas vezes ela impede de se ver o problema, da criança obesa que poderá não estar saudável mas, aos olhos dos que mantêm o ponto de vista,aquela criança não precisa de cuidados. Por isso, é necessário que a educação alimentar seja inserida na vida das famílias. Deve haver um diálogo durante as consultas, a fim de mostrar ao acompanhante que os hábitos alimentares inadequados na infância é um risco no presente e futuro para a obesidade.

Estimular o aleitamento materno

O aleitamento materno é um assunto que deve ser sempre orientado pelos enfermeiros, pois ele influencia diretamente na obesidade infantil. O leite materno possui todas as substâncias necessárias para o bebê até o sexto mês de vida, a partir daí a mãe é orientada a adicionar alimentos na dieta do filho. Porém, muitas das mães, muito antes do sexto mês, já oferecem outros alimentos para o bebê, o que pode fazer com que este se torne um bebê obeso, pois muitas vezes alteram a dieta da criança por conta própria, sem orientação de um profissional.

Muitas mães alimentam os filhos da maneira que melhor lhe convêm, seja um alimento de fácil preparo, pela sua falta de tempo, ou um alimento que deixe o bebê bastante cheio para que este durma por mais tempo, como podemos observar na fala a seguir:

“Sobre o aleitamento materno a gente tem que ficar sempre em cima, porque elas querem tirar logo o bebê do peito porque a maioria delas tem que voltar logo ao emprego, ou então elas mesmas dizem que quando ele está só mamando, ele acorda muito à noite; aí para se livrarem disso, compram por conta própria massas, pois estas massas deixam o bebê bastante cheio, e dorme por mais tempo” (Enfa P).

No momento da consulta de enfermagem é de extrema importância o enfermeiro passar simpatia e confiança para mãe e para a família, tirando suas dúvidas em relação aos cuidados com seu filho, informando os risco e consequências de uma alimentação inadequada e da introdução de leites artificias precocemente na dieta da criança. Esta confiança que o enfermeiro disse possuir, pode ser vista na fala a seguir.

“Temos condições de primeiramente estimular o aleitamento materno exclusivo nas crianças até os seis meses de idade, orientar a introdução de alimentos adequados para cada faixa etária da criança e principalmente ficar vigilante junto ao cartão da criança ao gráfico e a curva de crescimento, e principalmente o peso e altura, ver se essa criança tem risco de desenvolver obesidade ou não” (Enfa. A).

É sabido que o aleitamento materno é de grande importância no crescimento e desenvolvimento das crianças, mas ainda falta sensibilizar as mães, família e a sociedade.

“Muitas pesquisas mostram que o aleitamento materno tem fator de proteção para a obesidade nas crianças que são amamentadas até os seis meses de idade” (2).

Na consulta de puericultura a enfermeira que atua na estratégia de saúde da família pode contribuir na redução da obesidade infantil, promovendo educação em saúde durante o processo de gestação, ou intervir com ações dinâmicas e criativas, incentivando as gestantes a terem a oportunidade de trocas de experiências com outras mães, além de envolver toda família para, no momento que a mulher for amamentar seu filho, não desistir na primeira dificuldade.

Encaminhamento para outros profissionais

O trabalho da enfermagem não consiste apenas em orientar, consiste também em observar para, se for o caso, encaminhar para outro profissional especialista.

O acompanhamento mensal de uma criança é de grande importância para observar se a criança está crescendo e se desenvolvendo normalmente, pois ao acompanhar, o enfermeiro tem a oportunidade de observar se aquele bebê está ganhando peso ou perdendo, se seus marcos para a idade estão sendo desenvolvidos; e assim, observar mudanças que precisem de especialista, como é visto nas falas a seguir:

“Eu faço encaminhamento para o nutricionista se o bebê estiver acima ou abaixo do peso. Observo também os marcos para a idade se o bebê está se desenvolvendo normalmente, se não tiver eu encaminho para o pediatra” (Enfa. N).

“…Quando você se depara com a criança obesa… a gente já encaminha para que seja vista pelo o médico mesmo que ele não seja especialista, porque geralmente o médico é generalista, mas fazemos o encaminhamento por ele ter uma atuação melhor” (Enfa. I).

A atenção do enfermeiro para o desenvolvimento da criança, seja físico ou mental, é muito importante, pois nos primeiros anos de vida a criança tende a ter mudanças significativas do seu desenvolvimento e qualquer alteração deve ser levada em conta, a fim de reverter o quanto antes, e isso se faz com a observação do enfermeiro, que ao verificar mudanças, deve acompanhar, orientar e encaminhar para especialistas, quando necessário.

O profissional médico tem seu conhecimento diferenciado em relação ao do enfermeiro, mas isso não incapacita a autonomia do profissional enfermeiro em usar suas estratégias no cuidado efetivo da prevenção da obesidade ou qualquer ação que se disponha a fazer para a comunidade.

“Entre crianças que aos quatro anos de idade eram obesas, 20% tornarem-se adultos obesos; entre os adolescentes obesos esse percentual foi 80%. Um fator agravante é que somente cerca de 10% das crianças obesas e adolescentes procuram tratamento para perda de peso”(8: 209-234).

Percebemos que há a necessidade do enfermeiro intervir na educação em saúde para sensibilizar os pais e a família quanto à alimentação saudável. Verificamos nos depoimentos que o enfermeiro costuma encaminhar no primeiro momento a criança obesa para outros profissionais.

O apoio da equipe multidisciplinar tem sua importância, no sentido de estar vendo o indivíduo de forma holística diante de suas necessidades, e cada um pode estar contribuindo dentro da sua experiência, para ajudar a família com problemas de obesidade, com as orientações educativas, preventivas e tratamento adequado. Cada profissional atuando na sua especialidade vai facilitar para a criança e família aderirem às ações necessárias e tratamento, quando for sugerido.

Acompanhamento no gráfico da caderneta da criança

Existem meios de saber se a criança está ganhando altura e peso normalmente, dentre eles está o acompanhamento no gráfico da caderneta da criança.

O Ministério da Saúde disponibiliza uma caderneta para o acompanhamento das crianças até os dois anos de idade. Esta caderneta possui gráficos onde se é possível acompanhar se a criança está na altura e peso certos para a sua idade.

Muitos enfermeiros fazem uso desta caderneta em suas consultas mensais, pois é uma forma de acompanhar o desenvolvimento da criança, observando seu desenvolvimento de um mês para o outro, como é explicitado nas falas a seguir:

“Acompanho a criança pelos gráficos que tem na caderneta; toda consulta eu marco lá no gráfico o peso e a altura e assim observo se ela está crescendo corretamente” (Enfa. M).

“Marco todo mês lá na caderneta o gráfico, pra ver se a criança está acima ou abaixo do peso” (Enfa. V).

A cada consulta mensal de puericultura é possível observar nos gráficos da caderneta se houve mudanças positivas ou negativas naquela criança. O acompanhamento pelo gráfico é essencial.

“Deste modo, a mensuração rotineira e obrigatória dos valores de peso e altura pode ser o primeiro passo para a incorporação de um indicador clínico isento de julgamentos e indispensável ao gerenciamento do estado de saúde do paciente’’ (7: 239).

As medidas antropométricas como o peso e altura são medidas essenciais para o acompanhamento da criança, pois a partir delas é possível identificar se a criança está crescendo normalmente, ou se está sofrendo déficit de nutrientes. Logo, essas medidas básicas devem ser anotadas na caderneta da criança em todas as consultas.

As principais ações de enfermagem na estratégia de saúde da família quanto ao acompanhamento da criança é a consulta de puericultura, onde o enfermeiro pode identificar crianças com sobrepeso e obesidade, avaliando o desenvolvimento e crescimento da criança através do peso e estatura. Como diz a fala a seguir:

“Como enfermeiro da estratégia de saúde da Família, a principal ação de enfermagem que eu faço é a consulta de enfermagem em puericultura. Em todos os atendimentos a criança é pesada e verificada sua estatura, que são ferramentas ideais para o enfermeiro estar acompanhando essas crianças com sobrepeso ou obesidade” (Enfa. A).

Percebe-se que além da consulta em puericultura, as medidas na educação em saúde precisam ser intensificadas, para que a família compreenda as consequências que a obesidade pode vir ocasionar na saúde da criança.

“Um bom indicador seria a mãe perceber que o peso corporal pode estar relacionado com a saúde da criança e esse reconhecimento implicaria numa melhora no papel da mãe com os cuidados com a alimentação dos filhos”(9 :328).

O enfermeiro tem o papel fundamental na consulta de puericultura, onde ele interage com a criança e a família, tirando dúvidas e avaliando situações de risco em relação às práticas alimentares, contribuindo com a saúde da criança e seu desenvolvimento.

Contribuição do enfermeiro na prevenção da obesidade infantil

O enfermeiro tem uma contribuição muito significativa na prevenção da obesidade infantil, pois é um profissional que tem o poder de estar mensalmente acompanhando a criança, por estar mais perto da comunidade e conhecê-la, e assim fazer orientações necessárias de acordo com as condições das famílias.  O enfermeiro tem também a habilidade de orientar, de explicar sobre doenças que muitas das vezes chegam a ser desconhecidas, prevenindo muitas delas, como pode ser visto nos relatos a seguir:

“O enfermeiro contribui para orientar a mãe sobre a alimentação saudável, investiga como é a alimentação desta criança, conversa sobre a importância das frutas, verduras, legumes para o crescimento da criança, conversa sobre futuras doenças que a criança pode vir a ter se ela tiver uma má alimentação” (Enfa. W).

“A contribuição do enfermeiro é mais educativa, sobre o peso, mudanças de hábitos, e tá também acompanhando e vendo se a criança tá tendo redução de peso” (Enfa. K).

O papel do enfermeiro vai muito além de orientar para a alimentação saudável, também alertar para os riscos que uma má alimentação na infância pode acarretar para o futuro desta criança, enfatizar a importância das atividades físicas de acordo com cada idade.

“É importante ressaltar que o excesso de peso na infância predispõe a várias complicações de saúde, como: problemas respiratórios, Diabetes Mellitus, Hipertensão Arterial, Dislipidemias, elevando o risco de mortalidade na vida adulta” (10:626).

O enfermeiro tem a habilidade de desenvolver suas estratégias de forma que a comunidade acredite e siga as orientações educativas, sem muita resistência, dependendo da abordagem que é posta. Nesse contexto, não há dúvida que a educação e a saúde precisam andar juntas.

“A resposta ao aumento da obesidade infantil deve ser a intervenção o mais precoce possível” (11:32-34).

O enfermeiro pode contribuir nas ações educativas de forma sistemática, percebendo se suas contribuições estão sendo efetivadas. Na puericultura, é rotina as orientações sobre alimentos, mas se a família não for envolvida no processo de mudanças de hábitos saudáveis essas ações não terão a resposta almejada.

A participação do enfermeiro nas escolas seria de grande valia, pois os professores não têm tempo para falarem sobre alimentação saudável, por já estarem sobrecarregados com outras funções. E em menor proporção os merendeiros, por não terem formação e nem tempo disponível para tal ação.

É necessário que as autoridades invistam na educação em saúde nas escolas com vistas à preparação de alimentos saudáveis para as crianças e com a participação do enfermeiro, que contribuirá de forma efetiva com as intervenções para a redução da obesidade infantil.

O governo brasileiro, nos últimos anos, tem promulgado ações de promoção de saúde que visam o combate da obesidade infantil, como o Programa Saúde na Escola. Observa-se a necessidade de implementar e de fiscalizar as leis e regulamentações para o controle da obesidade infantil no Brasil, além de promover a alimentação saudável, nos aspectos que envolvem o público infantil (10: 625).

Existem vários projeto do governo que visam a redução da obesidade infantil, como o projeto “Dez Passos Para a Alimentação Saudável”, dentre outros. Mas poucas escolas aderem a esses projetos e em apenas alguns estados as escolas estão se inserindo nessa proposta. É necessário essa ideia se expandir em todos os estados brasileiros, com vistas a se criar, estratégias de educação em saúde para incentivar professores, alunos e comunidade da importância da educação alimentar.

Tecnologia, fastfood e sedentarismo

É fato que o mundo moderno contribuiu para o desenvolvimento da obesidade infantil, bem como para a violência nos centros urbanos, acarretando o medo nos pais em não deixar seus filhos brincarem nas ruas, nas pracinhas devido a insegurança e violência, fazendo a criança ficar boa parte do seu tempo ocioso nos jogos de computadores e filmes, como a fala a seguir diz:

“Percebemos que tem havido um aumento da obesidade infantil, principalmente por esses hábitos alimentares inadequados, por falta de esporte. E criança hoje é ligada a videogames, computadores, tablets. Deixou de jogar bola, correr, também se alimenta mal, comendo fastfood, muitas frituras, gorduras e por isso com certeza aumentou os casos de obesidade infantil” (Enfa. K).

O enfermeiro pode identificar a criança com sobrepeso ou obesa por meio da consulta de enfermagem, fazendo uma análise sobre como a criança está se alimentando e que tipos de alimentos lhe são oferecidos, investigando toda a família conhecendo a dinâmica para intervir de forma que todos compreendam a importância da alimentação saudável, para que possam aderir as recomendações.

“As intervenções abordam uma fração muito pequena das forças que geram a obesidade. Aspectos importantes, como o papel da indústria de alimentos, das cadeias de fastfood, das propagadas na TV, dos filmes e dos jogos e da própria programação de TV, que mantém as crianças cada vez mais sedentárias e submetidas a um hiperconsumo calórico”(11: 210).

É nítida a presença dos fastfoods no dia a dia das pessoas, devido à falta de tempo, dentre outros. Esta modernidade acarreta diversos problemas de saúde principalmente para as crianças. É necessário que haja uma fiscalização mais rigorosa nas indústrias alimentícias e nas propagandas de TV. Projetos do governo já existem com objetivos na redução da obesidade infantil. Verifica-se que, em consequência disso, as crianças estão ficando obesas e desenvolvendo Diabetes, Hipertensão e outras doenças crônicas muito cedo, que interferem em seu crescimento e desenvolvimento saudável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da necessidade de conhecer as intervenções do enfermeiro na assistência à criança obesa ou com sobrepeso, verificou-se que o enfermeiro da atenção básica, durante as consultas de enfermagem em puericultura e no atendimento as crianças do bolsa família, faz orientações para as mães sobre alimentação adequada para a criança de acordo com a idade, como também incentiva o aleitamento materno.

Mesmo as mães tendo resistência em amamentar, pois a maioria deixa de amamentar nos primeiros meses de vida da criança, inserindo massas e leites artificiais fatores que contribuem para a criança desenvolver obesidade, os enfermeiros orientam a amamentação. Outras dificuldades encontradas pelos enfermeiros são: questões culturais, sociais e políticas.

O enfermeiro da estratégia de saúde da família deve ser capacitado para intervir na redução da obesidade infantil, desenvolver estratégia para a educação em saúde abordando temas sobre hábitos alimentares saudáveis, atividades físicas, utilização de meios didáticos para facilitar a comunicação com as famílias adscritas na sua área de atuação, indo além dos muros, para que a população compreenda a importância dos hábitos alimentares saudáveis para a saúde da criança e toda família.

Para melhorar a assistência a crianças obesas e sua família, recomenda-se priorizar a educação em saúde, sensibilizando as famílias, que junto os hábitos inadequados vêm várias consequências para a saúde, como distúrbios metabólicos, ortopédicos, respiratórios e cardiovasculares; preparar as mães desde o início da gestação e durante todo processo do pré-natal, fortalecendo a importância do aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida da criança e no máximo até dois anos a desejo da mãe e a criança; bem como, a existência de políticas com foco na obesidade infantil com intervenções mais rigorosas.

REFERÊNCIAS:
1. Brasil, Ministério da Saúde. Estatuto da Criança e do Adolescente- 3°. Ed –Brasília, DF: Editora do Ministério da Saúde, 2006.
2. Brasil, Ministério da Saúde. Caderno de atenção básica-obesidade n°12- 2006.
3. Gil, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social 6ª. Ed., São Paulo: Editora Atlas S.A, 2008. p.121.
4. Brasil, Conselho Nacional de Saúde. Resolução n 466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos e revoga as resoluções nº 303/2000 e  nº 404/2008. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 13 jun. 2013. Seção 1, p. 59-62.
5. Patriota, P.F. guia do bebê. Disponível em < http://www.guiadobebe.uol.com.br/dra-pollyanna-fernandes-patriota.htm>. Acesso em: 19/dez. 2013.
6. Brasil, conselho nacional de secretários de saúde. Atenção primaria e promoção da saúde/CONASS, 1° Ed. Brasília, 2007.
7. Alves LMM,Yagui CM, Rodrigues CS,Mazzo A, Rangel EML, Girão FB. Obesidade infantil ontem e hoje: a importância da avaliação antropométrica pelo o enfermeiro. Esc Anna Nery. p.238-244 abr/jun; 2011.
8. Sichieri R, Sousa RA, Estratégia para a prevenção da obesidade em crianças e adolescentes. Cad. Saúde pública. 24 sup2: p.209-234, Rio Janeiro, 2008.
9. Camargo APPM, Filho AAB, Antonio MARGM, Giglio JS. A não percepção da obesidade pode ser um obstáculo no papel das mães de cuidar de seus filhos. Ciências & saúde coletiva. Campinas SP:18 (2): p.323-333, 2013.
10. Reis CEG, Vasconcelos IAL, Barros JFN. Políticas públicas de nutrição para o controle de obesidade infantil. Rev. Paul Pediatr. 29 (4): p.625-633. Viçosa, 2011.
11. Aquino MZ de.  Obesidade infantil problema que merece reflexão. Rev. Racine. v.20 n°118, p.32-34 set/out. 2010.

AUTORAS:
– Elizete Benedito Rodrigues;
– Julianne Rodrigues da Silva;
– Ana Ruth Macêdo Monteiro;
– Manuelade Mendonça figueiredo coelho;
– Riksber Leite Cabral.



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