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Controle de infecção hospitalar: orientações...

Agentes causadores de intoxicação exógena...

Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), é frequente a combinação de múltiplos medicamentos justificada tanto pelo status de gravidade do paciente internado, como pelo fato de ser uma estratégia útil que visa potencializar os efeitos terapêuticos dos agentes combinados em relação ao uso isolado de cada fármaco.

O consumo farmacológico em UTI é muito grande. Em grandes hospitais de atendimento terciário a média de itens prescritos pode chegar a quinze medicamentos; nas enfermarias esta média é de aproximadamente seis itens. A prescrição simultânea de vários medicamentos e a subseqüente administração é uma prática comumente utilizada em esquemas terapêuticos clássicos, com a finalidade de melhorar a eficácia dos medicamentos, reduzir a toxicidade, ou tratar doenças co-existentes, tal estratégia denominada polifarmácia merece atenção especial, pois medicamentos são substâncias químicas que podem interagir entre si, com nutrientes ou agentes químicos ambientais e desencadear respostas indesejadas ou iatrogênicas.

Interações medicamentosas (IM) são tipos especiais de respostas farmacológicas, em que os efeitos de um ou mais medicamentos são alterados pela administração simultânea ou anterior de outros, ou pela administração concorrente com alimentos.

A interação medicamentosa é, desta forma, uma das variáveis que afeta o resultado terapêutico e quanto maior o número de medicamentos que o usuário recebe, maior a possibilidade de ocorrência.

A incidência de interações medicamentosas em UTI é muito superior as taxas gerais do ambiente hospitalar como um todo. Provavelmente, em virtude do tipo de medicamento e do perfil dos pacientes admitidos nesse setor. O risco de sua ocorrência e a gravidade dependem de alguns fatores; entre os quais, o número de medicações prescritas, duração do tratamento, idade do paciente e estados de doença. Pacientes que requerem grande número de fármacos, longo tempo de tratamento, com alterações fisiológicas da idade ou certas doenças como insuficiência renal, choque hepatopatias como a cirrose e hepatites virais agudas são considerados de alto risco para interações medicamentosas severas.

A administração de medicamentos corresponde a complexo processo que implica na participação de vários profissionais: médico, farmacêutico e enfermeiro, juntamente com a equipe de enfermagem.

No Brasil, a equipe de enfermagem acumula a responsabilidade da preparação e administração dos medicamentos com seguimento direto dos efeitos sobre o paciente. Essa prática está amparada pelo Decreto 94.406/87 que regula a lei do exercício da enfermagem. Segundo esse Decreto, a administração de medicamentos é responsabilidade do enfermeiro, mesmo que seja executada por outro membro da equipe da enfermagem. O manejo da terapia farmacológica, na UTI, está entre as mais frequentes atividades desenvolvidas pela enfermagem, em especial ao enfermeiro, à qual cabe a responsabilidade pelo aprazamento, preparo, administração, monitoramento da medicação e avaliação do paciente quanto a possíveis complicações.

O uso racional do medicamento passa pela correta utilização das vias de administração e, consequentemente, por boa assistência de enfermagem. Qualquer medicamento racionalmente utilizado passa a ser ferramenta imprescindível para o controle efetivo de patologias, sendo fundamental o conhecimento total das suas ações por todos os profissionais que compõem a equipe de enfermagem.

O enfermeiro intensivista inserido em suas várias atividades de rotina deve ter consciência de seu papel no uso seguro de medicamentos.

É essencial que o enfermeiro conheça as propriedades farmacológicas dos medicamentos e tenha acesso às informações que permitam identificar as contraindicações de seu uso simultâneo, o que facilitaria prever a possibilidade de ocorrência de IM com a prescrição de múltiplos medicamentos na UTI.

Nesse contexto, além de buscar a garantia de uma prática medicamentosa segura, em que possíveis interações medicamentosas possam ser previstas e impedidas, faz-se necessário um conhecimento e habilidade específicos sobre farmacologia, interações e reações medicamentosas associadas às drogas, com a intenção de erros preveníveis durante a administração dos fármacos em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A qualidade na assistência e a segurança do paciente são metas a serem atingidas pelos profissionais e instituições de saúde. No entanto, apesar de esforços no sentido de alcançar um cuidado de qualidade, livre de riscos e falhas, convive-se com inúmeras ocorrências de eventos adversos a medicamentos (EAMs). Tal fato, compromete a efetividade do cuidado e pode ocasionar dano ao paciente. A ocorrência do dano pode agravar seu quadro clínico, aumentar os custos para as instituições e sociedade ou conduzir ao óbito.

Vários são os estudos que relatam eventos adversos preveníveis relacionados a medicamentos, especialmente em unidades de terapia intensiva, assim como em outros setores assistenciais, especialmente quando há o uso de várias drogas simultâneas.

No sentido de minimizar os possíveis eventos relacionados ao uso de medicamentos, a ANVISA, a partir de 2001/2002, implantou, em todo o Brasil, o projeto hospitais-sentinelas com objetivo de alimentar a busca ativa de eventos adversos e de queixas técnicas relacionadas a produtos de saúde, priorizando quatro áreas dentro de uma gerência de risco sanitário hospitalar: tecnovigilância, farmacovigilância, hemovigilância e controle de infecções hospitalares /saneantes. A primeira, responsável pela gerencia de riscos associados a eventos adversos ocasionados pelo uso de produtos hospitalares com alguma não conformidade documentada. A farmacovigilância responsável pelos eventos documentados através do uso de fármacos, e a hemovigilância pelo uso de homoderivados e hemocomponentes.

Ressalto aqui a necessidade de qualificação constante acerca deste tema pela equipe de enfermagem, em especial, pelos enfermeiros que são os profissionais responsáveis pela garantia de assistência segura e qualificada, supervisão da execução dos processos de enfermagem, além da necessidade de assumirmos melhor nossa posição de líder desta equipe.

Referências:

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2. ALMEIDA SM, GAMA SC, AKAMINE M. Prevalência e classificação de interações entre medicamentos dispensados para pacientes em terapia intensiva. einstein. 2007; 5(4):347-351

3. FERREIRA SS. Interações Medicamentosas no Tratamento do Acidente Vascular Encefálico relacionado à Hipertensão Arterial na Atenção Primária em Saúde / Stefany de Souza Ferreira. — Fortaleza, 2010. 76p.

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9. SAKATA RK. Analgesia e Sedação em Unidade de Terapia Intensiva. Rev Bras Anestesiol 2010;60(6): 648-658] ©Elsevier Editora Ltda

10. TELLES FILHO PCP, PRAXEDES MFS, PINHEIRO MLP. ERROS DE MEDICAÇÃO: análise do conhecimento da equipe de enfermagem de uma instituição hospitalar. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2011 set;32(3):539-45.

Autora: Stefany de Souza Ferreira – Enfermeira Intensivista



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