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Tireoide – Hipotireoidismo – Hipertireoidismo

Importância da SAE ao paciente...

A Atenção Básica é pautada no objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades.

No Brasil, a Atenção Básica é praticada no local mais próximo da vida das pessoas, isso porque entende-se que ela deve ser o contato preferencial dos usuários, a principal porta de entrada e o centro de comunicação com toda a Rede de Atenção à Saúde (BRASIL, 2012).

Com o intuito de organizar a Atenção Básica no Sistema Único de Saúde (SUS), O Ministério da Saúde (MS), em 1994, criou a Saúde da Família (SF) propondo uma mudança de modelo de saúde médico-centrado e hospitalocêntrico e contribuindo para uma efetiva melhoria das condições de vida da comunidade. Sendo assim, SF é considerada a estratégia prioritária para o fortalecimento da Atenção Básica (BRASIL, 2008).

A Estratégia de Saúde da Família – ESF (anteriormente classificada como Programa Saúde da Família – PSF) tem caráter substitutivo da Atenção Básica tradicional, é compromissada com a promoção à saúde e com as mudanças dos hábitos e padrões de vida através do empoderamento dos indivíduos e famílias frente à vida (BRASIL, 2008).

Nesse sentido, Mendes (1996) aponta que, na Atenção Básica efetiva, os processos de saúde/doença da população implica no desenvolvimento da promoção da saúde, da prevenção das enfermidades e acidentes e da atenção curativa e reabilitadora, o que possibilita ao usuário a resolução dos seus problemas de saúde.

Para que haja êxito nessa proposta de assistência a equipe da ESF deve estar preparada para conhecer a realidade das famílias, suas características sociais, demográficas e epidemiológicas, além de promover assistência integral e realizar um sistema educativo a fim de aumentar a qualidade e a abrangência do trabalho, além de melhorar o vinculo dos profissionais com os usuários e a satisfação do trabalho por ambas as partes (COTTA et al, 2005).

A ESF propõe a implantação de equipes multiprofissionais com responsabilidade no acompanhamento de um número definido de famílias localizadas em uma área geográfica delimitada; tem em vista a execução de práticas de saúde mais integrais e resolutivas, nestas, o eixo orientador é vigilância à saúde, concebida como modelo para a reordenação da lógica assistencial, a qual deve superar as intervenções centradas no indivíduo, voltando-se para as ações de caráter coletivo, ou seja, o foco desloca-se para a família e o lócus de ação para o território social, adotando as ações preventivas e de promoção da saúde como prioritárias (JORGE et al, 2007).

De acordo com os princípios do SUS, todas as instituições de saúde – inclusive as Unidades da ESF – têm a responsabilidade de atender às necessidades de saúde do usuário com qualidade técnica e de forma resolutiva, principalmente nos quesitos de acesso e acolhimento. No que diz respeito ao acesso, a excelência no serviço não pode ser medida apenas pela quantidade de pessoas que são atendidas, mas que a demanda seja suprida também com qualidade. Sendo assim, o modo como os cuidados técnicos são dispensados ou recebidos e a relação entre usuário e profissionais de saúde se configuram como um importante padrão para avaliar a qualidade da assistência (CORRÊA et al, 2011).

Toda avaliação permite verificar a qualidade do serviço, uma vez que consiste basicamente em fazer um julgamento de valor a respeito de uma intervenção ou sobre qualquer um de seus componentes. Vale destacar que a avaliação é necessária no sentido de subsidiar uma tomada de decisão, é útil para o estabelecimento de políticas e é um importante dispositivo de produção de informação (CONTANDRIOPOULOS et al, 2002).

Ainda apoiando-se na abordagem do autor supracitado, de maneira mais específica, no processo de gestão da Atenção Básica, a avaliação em saúde tem como objetivos: ajudar no planejamento e na elaboração de uma intervenção; fornecer informação para melhorar uma intervenção no seu decorrer; determinar os efeitos de uma intervenção para decidir se ela deve ser mantida, transformada ou interrompida e; contribuir para o progresso dos conhecimentos.

O controle social preconizado pelo SUS no âmbito da saúde também está pautado em uma prática avaliativa. Com essa perspectiva, Trad e outros (2002) apontam que uma avaliação da satisfação do usuário do sistema de saúde com competência pode modificar o próprio sistema.

Dessa maneira, a satisfação pode ser entendida como o resultado do atendimento que foi prestado, pois manifesta a visão global dessa atividade e está impregnada pelos valores pessoais e sociais, bem como pelas experiências individuais (FRÉZ; NOBRE, 2011). Assim, pode-se inferir que o grau de satisfação se diferencia de um usuário para outro.

Dentre os vários aspectos relevantes de se avaliar a satisfação dos usuários do sistema de saúde, é importante destacar que o planejamento e o redirecionamento das políticas públicas relacionadas à saúde tenderão mais ao acerto quanto mais estiverem justificados pelo respeito às perspectivas e às necessidades dos usuários, as quais são passíveis de detecção e análise (FRÉZ; NOBRE, 2011).

Nos serviços de Atenção Básica, geralmente, a satisfação do usuário perpassa por alguns itens: acesso aos cuidados médicos, informação sobre o processo saúde/doença e as dificuldades e/ou facilidades de acesso experimentadas (TRAD et al, 2002).

Para Medeiros e outros (2010) é primordial verificar a relação entre os usuários dos serviços de saúde e os profissionais. A qualificação desta relação se dar através de atitudes mais humanitárias, solidárias e cidadã, nas quais incidem diretamente na qualidade da assistência prestada e, consequentemente, no grau de satisfação dos usuários e na saúde dos mesmos.

Por reconhecer a importância e necessidade de avaliar a satisfação dos usuários no processo de gestão em saúde, Esperidião e Trad (2006) pensam que a avaliação de satisfação de usuários em saúde deve ser valorizada, como parte dos estudos das relações interpessoais no âmbito dos serviços de saúde e como instrumento de controle social.

Além disso, Contandriopoulos e outros (2002) destacam que nesse processo de avaliação o próprio usuário também é beneficiado, pois esse pode passar a usufruir de serviços diferentes dos disponibilizados habitualmente e, ainda, ao avaliar o serviço/a assistência, torna-se possível reduzir sua dependência perante profissionais.

Baseando-se nos benefícios conhecidos, entende-se que é necessário uma aplicação periódica de instrumentos de avaliação da satisfação do usuário a fim de proporcionar um melhor acolhimento e atenção, melhorando a integração entre usuário e sistema de saúde, além de fortalecer a participação da comunidade nos processos de planejamento.

Atenção Básica e Estratégia de Saúde da Família

A atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde. É desenvolvida por meio do exercício de práticas de cuidado e gestão, democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios definidos, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de cuidado complexas e variadas que devem auxiliar no manejo das demandas e necessidades de saúde de maior frequência e relevância em seu território, observando critérios de risco, vulnerabilidade, resiliência e o imperativo ético de que toda demanda, necessidade de saúde ou sofrimento devem ser acolhidos. (BRASIL, 2012).

Esse tipo de atenção na saúde leva em consideração a singularidade e peculiaridade de cada usuário, buscando dessa forma produzir uma atenção integral. Por isso tem como fundamentos e diretrizes: ter território adstrito sobre o mesmo, de forma a permitir o planejamento, a programação descentralizada e o desenvolvimento de ações setoriais e intersetoriais; possibilitar o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de qualidade e resolutivos; adscrever os usuários e desenvolver relações de vínculo e responsabilização entre as equipes e a população adscrita; coordenar a integralidade em seus vários aspectos e; estimular a participação dos usuários como forma de ampliar sua autonomia e capacidade na construção do cuidado à sua saúde e das pessoas e coletividades do território (BRASIL, 2012).

De acordo com a Portaria nº 2488, de 21 de outubro de 2011, disposta na Política Nacional de Atenção Básica, o trabalho das equipes de Atenção Básica pode ser caracterizado, dentre outros aspectos, pela definição do território de atuação e de população; pela programação e implementação das atividades de atenção à saúde de acordo com as necessidades de saúde da população;pelo desenvolvimento de ações que priorizem os grupos de risco e os fatores de risco clínico-comportamentais, alimentares e/ou ambientais; pela realização do acolhimento com escuta qualificada, classificação de risco, avaliação de necessidade de saúde e análise de vulnerabilidade e; pelo desenvolvimento de ações educativas que possam interferir no processo de saúde/doença da população (BRASIL, 2012; ESCOREL et. al, 2007).

Essas equipes de saúde que desenvolvem seu trabalho na Atenção Básica e atuam na ESF devem ser pró-ativas na identificação do processo saúde/doença e no reconhecimento de agravos, que devem ser seguidos ao longo do tempo, mediante o cadastramento e o acompanhamento contínuo e integral dos usuários e suas famílias, bem como acolher integralmente as necessidades de uma comunidade definida por limites territoriais, para que, desta maneira, consiga interferir nos padrões de produção de saúde/doença (BRASIL, 2008).

Atuar sobre os processos de saúde/doença da população, segundo Mendes (1996), implica no desenvolvimento de três grandes tipos de ação: a promoção da saúde, a prevenção das enfermidades e acidentes, e a atenção curativa e reabilitadora, pensando numa atenção básica resolutiva como parte de um sistema que possibilite o acesso aos usuários de serviços de nível de complexidade necessário para a resolução dos seus problemas de saúde.

Schraiber e Mendes-Gonçalves (1996) completam ainda, que em se tratando da atenção básica, esta ao mesmo tempo deve servir de porta de entrada para um sistema de saúde hierarquizado, e também constituir, no sistema, um nível próprio de atendimento, resolvendo um elenco de necessidades.

Para tanto, Figueiredo (2007) afirma que cada em ESF pode possuir uma ou duas equipes em sua atuação e a composição mínima de cada equipe é de um Médico da família ou generalista, Enfermeiro, Auxiliar de Enfermagem e Agentes Comunitários (ACS), sendo essa equipe responsável por 600 a 1000 famílias em um determinado território.

Esse trabalho em equipe na ESF tem a missão de mudar o modelo assistencial para a saúde, tal mudança deve basear-se em um modelo usuário-centrado. (CHAKOUR et. al, 1992). Sendo assim, o objetivo dessa estratégia é implementar os princípios do SUS – integralidade, universalidade, equidade e participação social.

De acordo com Dantas (2001), a reorientação do sistema de saúde no Brasil vem sendo construída, historicamente, através de avanços e retrocessos, e tem como uma das finalidades superar a desarticulação programático-funcional, a centralização da decisão político-administrativa e a má distribuição de recursos humanos, materiais e financeiros; a proposta, segundo o autor, se constituiria em um processo de luta política.

Segundo Santos; Santos e Oliveira (2009), o pressuposto é de que a ESF seria capaz de imprimir uma nova dinâmica na forma de organização dos serviços e ações de saúde, possibilitando maior racionalidade na utilização dos níveis de maior complexidade assistencial e produzindo resultados favoráveis nos indicadores de saúde da população assistida. Ao mesmo tempo, o princípio operacional do programa de descrição de clientela permitiria estabelecer um vínculo das ESF com a população, possibilitando o resgate da relação de compromisso e de corresponsabilidade entre trabalhadores de saúde e usuários dos serviços.

Nesse contexto, Escorel e outros (2007) afirmam que a definição como serviço de primeiro contato do sistema de saúde local é um atributo fundamental da atuação primária, tendo como papel garantir a atenção à grande maioria das necessidades de saúde além de funcionar como filtro na triagem para o acesso aos outros níveis. Contudo, Valentim e Santos (2009) afirmam que mesmo com todos os esforços das políticas públicas de saúde, os serviços básicos e secundários de saúde estão incapazes de atender a demanda do primeiro atendimento em cuidados de saúde, o que leva o aumento considerável na procura aos serviços de atendimentos terciários.

Vale destacar que a ESF tem demonstrado melhora na eficiência e na qualidade dos serviços prestados na Atenção Básica dos diferentes municípios nos quais foi implantada, apesar da constatação de um número significativo de unidades apresentarem estrutura física inadequada, não raro, improvisada (BRASIL, 2008).

De acordo com Franco e Merhy (1999), o problema do atual modelo assistencial é identificado pela estratégia, porém não é decifrado para que sejam criadas soluções para tal, e acaba sendo engolido pela feroz dinâmica do trabalho médico-centrado e às vezes por não saber ou por ignorância – inclusive por uma ideologia limitada de seus operadores – acabam trabalhando centralmente na produção de procedimentos, esquecendo-se da essência que é a produção do cuidado e da cura.

Avaliação em saúde

Por meio de uma perspectiva conceitual, a avaliação é considerada um termo polissêmico. Dessa maneira, diante das várias definições existentes, Contandriopoulos e outros (2002) definem avaliação como uma atividade que consiste fundamentalmente em aplicar um julgamento de valor a respeito de uma intervenção, por meio de um dispositivo capaz de fornecer informações cientificamente válidas e socialmente legítimas sobre ela ou qualquer um dos seus componentes, permitindo aos diferentes atores, posicionarem-se e construírem, de forma individual ou coletiva, um julgamento capaz de ser traduzido em ação.

As práticas de saúde podem, então, constituir-se como objeto de avaliação nas suas diversas dimensões, seja enquanto cuidado individual, seja nos seus níveis mais complexos de intervenção e de organização, como políticas, programas, serviços ou sistemas.

O conceito de avaliação surge como preocupação dos gestores dos serviços de saúde tomando como marco histórico a Segunda Guerra Mundial, quando os gastos com a saúde passaram a crescer de maneira significativa nos países desenvolvidos em consequência do grande desenvolvimento científico, pois a contenção de gastos gerou a necessidade de se avaliar os custos decorrentes do uso das tecnologias e práticas de saúde aplicadas (LIMA; SILVA, 2011).

Ainda de acordo com os autores supracitados, enquanto a contenção de gastos na área da saúde foi um dos temas dominantes em muitos países, os profissionais de saúde começaram a enfatizar a necessidade de avaliar os resultados de suas práticas. Contudo, a partir dos anos 60, os serviços de saúde, devido a sua própria expansão, passaram a ser pensados como produtos e, portanto, passíveis de uma padronização na qualidade e alvos de avaliação. Além da importância no setor privado, a qualidade ganhou destaque também no setor público, como parte dos direitos sociais da população e pelos movimentos dos consumidores.

A avaliação, segundo Tanaka e Melo (2001), é um valor assumido pelo julgamento realizado com base em critérios previamente definidos.Tendo, para tanto objetivos, que de acordo com Contandriopoulos e outros (2002) são: ajudar no planejamento e na elaboração de uma intervenção (objetivo estratégico), fornecer informação para melhorar uma intervenção no seu decorrer (objetivo formativo), determinar os efeitos de uma intervenção para decidir se ela deve ser mantida, transformada de forma importante ou interrompida (objetivo somativo), e contribuir para o progresso dos conhecimentos, para a elaboração teórica (objetivo fundamental).

No âmbito dos programas e serviços de saúde, a avaliação é compreendida como estratégia técnico-administrativa destinada à tomada de decisão, numa aproximação à definição de avaliação como instrumento da gestão. Em síntese, a avaliação possibilita um olhar crítico sobre o que está sendo feito e uma comparação com o que deveria estar ocorrendo, dando espaço para correções e melhorias nos processos em busca de melhores resultados (Sarti et al, 2008).

Segundo Donabedian (1986), as áreas a merecer exame do avaliador de determinado estabelecimento de saúde ou dos profissionais cujo desempenho se deseja avaliar são a estrutura – que corresponde aos recursos utilizados, incluindo os físicos, recursos humanos, materiais, instrumental normativo e administrativo e mesmo as fontes de financiamento – o processo – implica as atividades relativas à utilização de recursos, nos seus aspectos quantitativos e qualitativos – e os resultados – correspondem às consequências da atividade do estabelecimento de saúde ou do profissional em análise, para a saúde dos indivíduos ou populações. Donabedian propôs ainda que a avaliação deve ser feita por meio de sete pilares da qualidade, sendo eles: eficácia, efetividade, eficiência, otimização, aceitabilidade, legitimidade e equidade.

Existem vários modelos de avaliação, sendo que dentre esse modelos há a possibilidade do emprego de três tipologias para a avaliação dos serviços de saúde como a investigação avaliativa, que visa a produção de conhecimento nesse campo segundo as regras do método científico e sem compromisso com a intervenção prática dos resultados; a avaliação para a tomada de decisão e a avaliação para a gestão, que serve para direcionar ou redirecionar a execução de atividades, ações, programas, e por, conseguinte, deve ser exercida por todos aqueles envolvidos no planejamento e execução de tais ações (NOVAES, 2000).

No que tange a classificação da avaliação de acordo com a sua função, esta pode ser do tipo somativa, quando fornece julgamentos sobre aspectos fundamentais de um programa, sendo frequentemente utilizada para deliberar sobre a continuidade ou o encerramento de um programa tomando por base a ideia de que até que ponto os objetivos propostos foram atingidos; ou pode ser do tipo formativa, quando visa fornecer informações para adequar e superar aspectos problemáticos do programa durante o seu andamento (FURTADO, 2001; BRITO, JESUS, 2009).

Considerando, desta vez, a visão de Contandriopoulos e outros (2002), a intervenção que irá ser julgada, pode sofrer dois tipos de avaliação: a chamada avaliação normativa, que acontece quando se busca estudar cada um dos componentes da intervenção em a relação a normas e critérios; e a chamada pesquisa avaliativa, quando se quer examinar, por meio de um procedimento científico, as relações que existem entre os diferentes componentes de uma intervenção.

Diante do exposto, a avaliação se efetiva como uma ferramenta indispensável para a melhoria da qualidade da atenção, principalmente quando se trata da atenção básica, em que novas práticas e tecnologias são disponibilizadas. A importância da avaliação na atenção básica se relaciona com o fato de que esse âmbito da atenção, a partir da Constituição Federal de 1988, destaca-se como um território estratégico para a construção do SUS. (ALMEIDA; MELO, 2010).

No Brasil, o fortalecimento de uma política de avaliação específica no âmbito da atenção básica vem ocorrendo, sendo que o debate sobre a importância de se institucionalizar a avaliação teve início, principalmente, através das contribuições de autoras como Zulmira Hartz, tal debate, então, ganhou força e o Ministério da Saúde lançou em 2003, a Política Nacional de Avaliação da Atenção Básica (FELISBERTO, 2006).

Entretanto, a institucionalização da avaliação e do monitoramento na atenção básica revela-se de forma incipiente, pouco incorporada as práticas, no serviço e no cotidiano do SUS. A avaliação assume caráter mais prescritivo, burocrático e punitivo, nem sempre contribuindo para o planejamento, gestão e processo decisório. No cotidiano das unidades básicas de saúde, a avaliação acontece de forma aleatória, assistemática e esporádica e quase sempre focada na produção dos serviços, no quantitativo de recursos materiais e de pessoal, não estando, portanto, articulada com o diagnóstico das necessidades de saúde da população brasileira (FELISBERTO, 2004).

A avaliação no contexto da atenção básica da saúde deve utilizar uma metodologia participativa e problematizadora, pois de acordo com essa perspectiva a avaliação possui a capacidade de se tornar um poderoso instrumento, pois segundo Sarti e outros (2008) ao fornecer informações pertinentes sobre a adequação das estruturas e processos a padrões previamente definidos e dados referentes ao contexto social e político no qual o programa está inserido, os sujeitos podem intervir na realidade buscando transformá-la.

Satisfação do usuário

Com a promoção e fortalecimento do controle social no âmbito do SUS e o incentivo à participação comunitária, os estudos de satisfação passaram a ter um importante papel no cenário brasileiro, uma vez que se passou a conceber que o usuário do sistema de saúde assume competência para avaliar e intervir modificando o sistema (ESPERIDIÃO; TRAD, 2006).

Os estudos de satisfação dos usuários ganharam destaque especialmente na década de 1970, nos Estados Unidos e na Inglaterra, inseridos no paradigma do consumismo e na cultura da qualidade. As primeiras pesquisas no campo de avaliação em saúde, ainda na década de 1970, referiam-se à satisfação do paciente. Tinha-se por objetivo conseguir melhores resultados clínicos, por meio da adesão ao tratamento, em três dimensões: comparecimento às consultas; aceitação das recomendações e prescrições e uso adequado dos medicamentos (VAITSMAN; ANDRADE, 2005).

O conceito do termo “satisfação” no caso das avaliações de satisfação dos usuários de serviços de saúde, embora largamente empregado na literatura internacional, é um conceito vago, reunindo realidades múltiplas e diversas. A satisfação do usuário é considerada uma meta a ser alcançada pelos serviços, devendo, portanto, ser pesquisada visando aperfeiçoar o sistema de serviços de saúde (ESPERIDIÃO; TRAD, 2006).

A medida da satisfação dos usuários ou dos pacientes é uma avaliação pessoal dos cuidados e dos serviços de saúde que são dispensados (WARE et al, 1983). Donabedian (1980) considera que a satisfação dos usuários pode ser vista pela relação que têm diante do contexto, do processo, e do resultado global de sua experiência relativa a um serviço. Essa avaliação se baseia em padrões subjetivos, implicando atividades psicológicas de ordem cognitiva e afetiva, engajadas em um processo comparativo entre a experiência vivida e critérios subjetivos do usuário.

Para Donabedian (1984), a ideia de satisfação do paciente tornou-se um dos elementos constituintes da avaliação da qualidade em saúde, ao lado da avaliação do médico e da comunidade. Isso permitiu incorporar os não especialistas, ou seja, os usuários, na definição de parâmetros e na mensuração da qualidade dos serviços. Assim, a satisfação do usuário passou a ser tema de um conjunto amplo de pesquisas, com o objetivo de saber a opinião dos usuários de serviços tanto públicos quanto privados, focalizando as distintas dimensões que envolvem o cuidado à saúde, considerando desde a relação médico-paciente até qualidade das instalações do serviço, passando pela qualidade técnica dos profissionais de saúde (VAITSMAN; ANDRADE, 2005).

Para que um sujeito avalie os níveis de satisfação para com um determinado serviço este deve levar em consideração alguns elementos como o ideal de serviço, a noção de serviço merecido, uma média da experiência passada em situações de serviços similares, e um nível subjetivo mínimo da qualidade de serviços a alcançar para ser aceitável. Dessa maneira, uma avaliação sistemática da qualidade das ações dos serviços de saúde constitui-se como uma medida para otimizar essas ações (TRAD et al, 2002).

Existem diferentes perspectivas metodológicas para se abordar a satisfação dos usuários de serviços de saúde. Em uma primeira perspectiva, defende-se o emprego de instrumentos rigorosamente validados e padronizados; além de ser importante garantir, durante o processo de avaliação, a objetividade, o caráter confidencial e o anonimato dos entrevistados. Uma das mais conhecidas metodologias de pesquisa de satisfação foi desenvolvida por Parasuraman (1988), onde são avaliadas cinco dimensões do atendimento, como agilidade, confiabilidade, empatia, segurança e tangibilidade. Já para Donabedian (1984; 1990), a avaliação feita sob o ponto de vista do usuário deve tomar como base a categoria da aceitabilidade, que se refere à conformidade dos serviços oferecidos em relação às expectativas e aspirações dos pacientes e seus familiares (VAITSMAN; ANDRADE, 2005).

Os estudos de avaliação da satisfação de usuários utilizam como instrumentos escalas e questionários compostos de subitens que se referem a uma gama de questões, incluindo estrutura, funcionamento e avaliação do serviço de saúde.

Como o termo “satisfação” possui um aspecto subjetivo, este possui diversos determinantes como o grau de expectativa e exigências individuais em relação ao atendimento e características individuais do paciente como idade, gênero, classe social e estado psicológico. Desse modo a avaliação dos serviços de saúde pelos usuários está impregnada pelos valores pessoais e sociais, bem como, pelas experiências individuais. A satisfação é ainda multidimensional, sendo expressa de maneira diferente pelas pessoas, sendo que uma mesma pessoa pode se manifestar diferentemente em tempos diferentes, podendo estar satisfeita em vários aspectos da assistência e insatisfeita simultaneamente em outros (FRÉZ; NOBRE, 2011).

Diante de todo o exposto pode-se dizer que a satisfação dos usuários é um importante indicador para a avaliação dos serviços de saúde. Incorporar a satisfação do usuário na avaliação dos serviços pode potencializar à melhora na adesão ao tratamento, à relação médico-paciente e à maior adequação no uso do serviço, uma vez que quando se tem usuários satisfeitos estes tendem a aderir ao tratamento prescrito, a fornecer informações para o provedor e a continuar utilizando os serviços de saúde, e o principal de tudo, é que pacientes satisfeitos são mais propensos a ter melhor qualidade de vida.

Referências

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